Título: Novos ministros têm de garantir voto no Congresso
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O País, p. 8

Presidente quer equipe com força política para formar governo de coalizão e ampliar sua base parlamentar

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a estabelecer critérios para a nomeação de aliados para o primeiro escalão. O principal deles é que o candidato tenha força política nas bancadas do seu partido no Congresso. A mais de um interlocutor, Lula disse que não pode mais cometer o erro do primeiro mandato, quando nomeou ministros sem força política e representação na Câmara e no Senado.

No Palácio do Planalto, foi citado o exemplo do ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe, do PMDB, que não conseguiu voto algum para o governo. Nas palavras de um assessor palaciano, Lula quer um governo de coalizão de fato, com capital político e uma base aliada representativa no Congresso. O presidente vai cobrar isso do PMDB.

Qualificação técnica também será critério

Lula quer unir o capital político de seus futuros ministros com a qualificação técnica, outro critério para a formação de sua equipe.

¿ O presidente Lula está obcecado por colocar ministros com representatividade política e que tenham referências em suas respectivas pastas. Isso é o ideal ¿ disse um interlocutor do presidente.

Na próxima semana, o presidente começa a discutir com os partidos aliados a formação de um governo de coalizão, mas sem pressa. Seu tempo para concluir a formação da nova equipe é antes do Natal, daqui a 54 dias. Segundo o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, Lula adotará um ¿ritmo tranqüilo¿ para concluir a composição de seu novo Ministério.

Tarso disse ainda considerar desnecessário que os atuais ministros apresentem pedido de renúncia coletiva, como chegou a defender a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, argumentando que os cargos estão sempre à disposição do presidente.

¿ O presidente vai conduzir pessoalmente as negociações com os partidos políticos, e não delegará essa função. Um governo de coalizão necessita dessa relação pessoal do presidente com as instituições partidárias. Se não for conduzido pelo presidente, não dá certo ¿ afirmou Tarso.

Segundo os próprios ministros, Lula está consciente de que precisa fazer um governo mais amplo, principalmente para evitar crises políticas e problemas de governabilidade que marcaram o primeiro mandato. O PMDB será prioritário para esta composição. Mas mesmo com partidos menores como PSB, PL, PTB e PP, Lula vai adotar o critério semelhante de cobrar força político do futuro ministro.

Como exemplos positivos de ministros que tiveram lideranças sobre suas respectivas bancadas, Lula costuma citar o desempenho do governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), quando foi titular da pasta de Ciência e Tecnologia, e do senador eleito pelo Amazonas, Alfredo Nascimento (PL), no período em que comandou o Ministério dos Transportes. Nascimento é cotado para assumir uma pasta na cota do PL.

Tarso, que estará de licença por dez dias a partir de hoje, sem remuneração, desconversou sobre seu papel no futuro governo:

¿ O presidente não fez nenhum convite. Estou tão pouco preocupado com isso que vou tirar dez dias de descanso. Nenhum ministro deve fazer cogitação a respeito de qual cargo deva assumir porque isso pode parecer ou ambição pessoal ou pressão ¿ disse Tarso.

O ministro confirmou que conversou com os oposicionistas Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Heráclito Fortes (PFL-PI) sobre a votação de propostas no Congresso até o fim do ano. Ele disse que se dedicará a esse trabalho assim que voltar da licença. E citou como prioridade a aprovação do Fundeb, da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e da minirreforma tributária.

COLABOROU Isabel Braga