Título: REJEITADOS NAS URNAS, PARLAMENTARES BUSCAM VAGA NO TCU
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O País, p. 8

Deputados como Fleury Filho e Robson Tuma disputam cargo vitalício de ministro, com salário de R$23.500

BRASÍLIA. Derrotado nas urnas nas eleições deste ano, um grupo de pelo menos seis deputados está novamente em campo. Desta vez, em busca de outra vaga: o cobiçado cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Cabe à Câmara dos Deputados indicar o futuro ministro. Ele vai substituir o ex-deputado Adylson Motta, que deixou o TCU compulsoriamente por ter completado 70 anos. Alguns desses candidatos estão em plena campanha pelos corredores do Congresso. A eleição será no próximo dia 22, e a escolha será feita no plenário pelos 513 parlamentares.

São muitas as vantagens e as mordomias do cargo em disputa. O salário é alto, de R$23.500, e não pode ser reduzido; o emprego é vitalício (o limite é a idade de 70 anos); a aposentadoria é integral; além do carro com motorista na porta.

Os deputados que concorrem são experientes e acumulam vários mandatos e cargos eletivos. Entre eles, está o ex-governador de São Paulo e promotor Luiz Antônio Fleury Filho (PTB). Ele não se reelegeu para um terceiro mandato na Câmara e entrou no páreo pela vaga. Fleury admitiu que está disputando por não ter sido reeleito, mas afirmou ter experiência e acúmulo jurídico suficientes para assumir o posto.

¿ Na verdade, se tivesse sido reeleito, eventualmente poderia disputar. Talvez não disputaria. Para ser sincero, não disputaria não. Mas não considero este um prêmio de consolação. Minha experiência como promotor e secretário de segurança pública me habilitam para o cargo ¿ disse Fleury.

Secretário-geral da Mesa da Câmara pode ser indicado

Cada partido pode indicar apenas um nome para disputar a vaga. O prazo de inscrição termina dia 14, uma semana antes da eleição. No PFL, a disputa é intensa: quatro deputados estão na disputa, mas há um favorito da bancada pefelista: José Thomaz Nonô (PFL-AL). Promotor de Justiça, como Fleury, Nonô, seis vezes deputado federal, foi mal nas urnas e terminou em terceiro lugar na disputa para o Senado em Alagoas, vencida por Fernando Collor. A assessoria do deputado confirmou que ele está no páreo e vai disputar a vaga para o tribunal.

Além do corpo-a-corpo nos corredores da Câmara, os candidatos estão telefonando para os gabinetes e conversando diretamente com os parlamentares. Aroldo Cedraz (PFL-BA), também não reeleito, está em plena campanha. Anteontem, ele circulava pelo plenário e parava cada um dos deputados que encontrava à sua frente:

¿ Sou candidato ao TCU e conto com sua ajuda ¿ pedia Cedraz.

Robson Tuma (PFL-SP), outro que não se reelegeu, também disputa a vaga. Moroni Torgan (PFL-CE), que perdeu a eleição para o Senado, também é candidato e faz intensa campanha. No cafezinho da Câmara, anteontem, pediu votos a três deputados do Rio Grande do Sul e recebeu apoio de Ônyx Lorenzoni (PFL).

Apesar de a indicação ser da Câmara, o nome a ser aprovado não precisa ser, necessariamente, de um parlamentar. O secretário-geral da Mesa da Câmara, o conhecido e experiente Mozart Viana, também deve entrar nessa disputa. Mas sua indicação teria aparecido quase que por acaso. Numa reunião de líderes, José Carlos Aleluia, do PFL, sugeriu um nome de consenso e que fosse uma homenagem ao servidor público. Aleluia sugeriu Lucas Furtado, procurador da República junto ao TCU. O nome de Lucas não teria empolgado os líderes. Apareceu então o nome de Mozart, indicado pelo líder do PTB, José Múcio (PE). Mas, com entrada de Fleury na disputa, Múcio teria recuado do apoio a Mozart.

O secretário da Câmara disse que, se for indicado por outro líder, vai para a disputa.

¿ Não ambiciono esse cargo, mas qualquer servidor público ficaria honrado, é um prêmio à sua carreira ¿ disse Mozart.

COLABOROU Roberto Stuckert Filho