Título: ANJ condena tentativa de intimidar jornalistas
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Fonte: O Globo, 02/11/2006, O País, p. 12

Em nota, entidade lamenta que PF se preste ao papel de hostilizar profissionais e defende a liberdade de imprensa

BRASÍLIA. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenou ontem o comportamento do delegado Moysés Eduardo Ferreira, da Polícia Federal, que, ao interrogar repórteres de ¿Veja¿, teria agido de maneira intimidatória. A ANJ defendeu os repórteres, que teriam sido tratados como investigados, e não testemunhas.

Em nota assinada pelo vice-presidente, Júlio César Mesquita, a entidade afirma que, no depoimento prestado ao delegado, os repórteres Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro ¿sofreram constrangimentos e ameaças, numa evidente tentativa de intimidar o livre exercício do jornalismo¿.

¿É lamentável que uma instituição como a Polícia Federal se preste ao papel de hostilizar jornalistas e um veículo de comunicação em função do trabalho jornalístico por eles praticado. A liberdade de imprensa é um valor maior da democracia. A Polícia Federal é uma instituição do Estado, a quem cabe servir a toda a sociedade. A ANJ espera que fatos como esse não se repitam e que a Polícia Federal cumpra suas atribuições nos estritos limites da lei, sem pretender atemorizar profissionais ou empresa jornalística no exercício do legítimo direito e dever de informar os cidadãos¿, diz a nota da ANJ.

Em outra nota, a ANJ condenou a forma como o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião, do PMDB, tratou jornalistas em entrevista no Palácio Iguaçu. Ele teria acusado a imprensa de fazer campanha para eleger seu adversário, o senador Osmar Dias (PDT). Requião teria hostilizado e constrangido os repórteres presentes. O governador foi chamado de ¿grosseiro e desrespeitoso¿ pela entidade.

¿É lamentável que um governador de estado, a quem cabe a responsabilidade de administrar os interesses de toda a coletividade, se porte com tamanha beligerância e desatino. Como homem público, deveria zelar pelo livre exercício do jornalismo, pressuposto básico da democracia¿, diz a nota, assinada pelo presidente da entidade, Nelson Sirotsky.

SIP diz que incidente desrespeita a Constituição

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também condenou a intimidação aos jornalistas de ¿Veja¿. ¿Este fato representa um abuso de poder no qual os representantes da autoridade, incomodados com a revelação feita pela revista ¿Veja¿, tentam culpar a imprensa por irregularidades cometidas por seus funcionarios. Este incidente chama a atenção para a falta de respeito à liberdade de expressão garantida pela Constituição Brasileira¿, disse Gonzalo Marroquín, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro reprovou ¿a histeria de inspiração fascista dos militantes que, no Palácio da Alvorada e na base aérea de Brasília, agrediram os repórteres que cobriam o dia seguinte da vitória de Lula. Foi uma mancha na bela festa da democracia e merece, ao nosso ver, uma manifestação contundente do PT e do presidente Lula (...)¿. O sindicato cobrou também agilidade nas investigações sobre a denúncia de abuso de autoridade feita por ¿Veja¿.