Título: PARA O SETOR AÉREO, CAOS REFLETE DESCASO
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Fonte: O Globo, 02/11/2006, Economia, p. 29

Apesar de forte expansão do tráfego, sistema de controle não é renovado há 20 anos

BRASÍLIA e RIO. O caos nos aeroportos brasileiros ¿ especialmente em Brasília e no Sudeste ¿ evidencia o colapso do sistema de controle do tráfego aéreo, com falta de investimentos do governo para acompanhar a expansão da aviação civil, que vem crescendo acima de 15% nos últimos anos. O principal problema, apontado por trabalhadores, sindicalistas e empresas aéreas, é o descaso na contratação de pessoal. Sem concurso público para a contratação de civis há 20 anos, o quadro nacional está defasado em 500 profissionais.

Apenas no Rio, onde trabalham até 70 controladores divididos em cinco equipes, o déficit gira em torno de 15 a 20 profissionais. O concurso que ocorreria este ano foi cancelado em julho e só está sendo retomado agora. Outro concurso, de 2004, foi cancelado depois que se descobriu que mais da metade das 114 vagas estaria reservada aos sargentos da Aeronáutica.

Representantes dos profissionais do setor afirmam que a categoria de controladores, que reúne no país cerca de 500 operadores civis e 2.200 militares, sofre com o excesso de interferência militar no setor. Isso seria a causa da situação-limite a que os profissionais chegaram. Por isso, o setor reivindica a diluição do poder militar na vigilância da aviação civil, possibilidade levantada ontem pelo ministro da Defesa, Waldir Pires.

Maioria dos empregados faz bico

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Proteção ao Vôo sugeriu ao Ministério da Defesa a desmilitarização dos controladores de vôo. Para Ernandes Pereira da Silva, diretor-técnico da entidade, enquanto a categoria for subordinada ao Comando da Aeronáutica, a situação permanecerá inalterada: poucos funcionários e salários baixos.

Outro entrave apontado pelo presidente da Associação dos Controladores de Vôo do Rio, Jorge Nunes Oliveira, é a falta de regulamentação da profissão, o que leva a um salário inicial muito baixo, de até R$1.300. Ele disse ainda que a maioria dos controladores faz ¿bicos¿ para complementar a renda, atuando como motoristas de táxi e de ônibus e até em policiamento.

¿ Estamos analisando a proposta de dar uma gratificação para os controladores de vôos, mas ainda temos que analisar isso com o setor econômico do governo ¿ afirmou Pires.

Representantes da categoria dizem que, mesmo com a contratação de modernos equipamentos ¿ como o Sivam ou novos radares ¿, falta gente para operá-los.

¿ Só não ocorreu um acidente porque Deus é brasileiro ¿ diz um controlador de vôo do Cindacta 1 (Brasília).

Segundo o psicólogo da reserva Antônio Becker, outro problema é o estresse. Há cerca de um ano não há tratamento psicológico contínuo para o pessoal do Cindacta 1.

PREJUÍZO DAS COMPANHIAS AÉREAS CHEGA A R$40 MILHÕES, na página 30