Título: Feriadão na fila
Autor:
Fonte: O Globo, 02/11/2006, Economia, p. 29

Medida emergencial para aliviar aeroportos não funciona e atrasos continuam

RIO, BRASÍLIA, SÃO PAULO e RECIFE

Aprimeira medida emergencial para reduzir o congestionamento do tráfego aéreo nacional ¿ o desvio de rotas para desafogar a torre de comando de Brasília ¿ não produziu os efeitos esperados ontem, quando o caos em pelo menos oito aeroportos se repetiu, no prenúncio de um feriado de saguões de embarque lotados, longa espera e cancelamento de vôos. Em Brasília, que tem a pior condição no transporte aéreo, houve atrasos de mais de cinco horas e faltou infra-estrutura para alimentação e higiene dos passageiros, até de madrugada.

O governo baixou ontem medida provisória autorizando a contratação de 60 controladores de vôo sem concurso público ¿ inócua a curto prazo, pois o treinamento é longo.

¿ Vocês têm de entender que dependemos de controladores de vôo, que não são encontrados na esquina ¿ afirmou o ministro da Defesa, Waldir Pires.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ampliou em duas horas e meia o funcionamento do Aeroporto de Congonhas (SP), o mais movimentado do país, empurrando o fechamento de 23h para 1h30. A Anac pediu às companhias que reduzam o número de vôos nos horários de pico. O presidente da agência, Milton Zuanazzi, disse que a medida vale por 30 dias.

Enquanto isso, a insatisfação é crescente. Na madrugada, em Brasília, dezenas de passageiros dormiram no chão, faltava papel higiênico nos banheiros do salão de embarque e acabaram os estoques da lanchonete, o que provocou conflitos entre passageiros e funcionários das companhias. Os passageiros da Gol do vôo 1716, por exemplo, que deveriam ter embarcado às 21h30 com destino a Salvador e Aracaju, só conseguiram viajar às 2h20. ¿Não quero pão, quero avião¿ e ¿Vamos invadir¿ eram algumas das palavras de ordem.

Por volta das 18h, pelo menos 21 vôos apareciam com atraso nos monitores em Brasília. O publicitário e apresentador de TV Roberto Justus, à espera de seu vôo para São Paulo, criticou a falta de infra-estrutura para controle de vôos no país e disse que a colisão entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy, em setembro, serviu de ¿alerta para o estado atual do nosso controle de tráfego aéreo¿.

A situação caótica levou o Palácio do Planalto a cancelar a reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), formado por 14 representantes do setor produtivo e 13 ministros de Estado. O CNDI iria debater o crescimento da economia brasileira.

No Rio, nos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont, 92 vôos tiveram atrasos de até cinco horas. Todos os trechos entre Rio de Janeiro e Brasília foram cancelados ontem. O Tom Jobim teria fechado às 18h30 por operação-padrão por mais de 40 minutos, segundo os atendentes da Infraero ¿ informação negada pelo Comando da Aeronáutica.

Em São Paulo, Guarulhos registrou 65 atrasos até as 20h, e Congonhas, 278 atrasos até as 18h. O tempo médio de espera variava entre meia hora e duas horas.

O presidente da Infraero, José Carlos Pereira, garantiu que estão sendo tomadas todas as medidas para minimizar os problemas durante o feriado de Finados e disse que a situação estará menos complicada até o Natal.