Título: Manágua, onde as ruas não têm nome
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O Mundo, p. 34

MANÁGUA. Entender a política nicaragüense, sua conturbada história manchada de sangue e suas recentes divisões parece fácil diante de uma atividade aparentemente muito mais prosaica para o visitante: saber onde você se encontra em Manágua, ou, pior ainda, para onde você vai. A cidade não tem endereços, ou, pelo menos, não a forma de endereço que costumamos ver em... bom, em qualquer outro lugar do mundo.

Dos 5,5 milhões de habitantes da Nicarágua, mais de 1,1 milhão vivem em Manágua, a capital. Mas esta confluência para a cidade não ocorreu devido a uma localização privilegiada. A escolha foi uma decisão estratégica para evitar mais choques entre as oligarquias das cidades de Granada e León, as maiores da época colonial. Para apaziguar os ânimos, escolheu-se como capital do Estado um local que ficasse exatamente entre as duas grandes cidades: e no meio havia a modesta Manágua.

Capital, Manágua viveu um rápido inchaço, quando centenas de ruas foram criadas sem organização ou planejamento. Se havia esperança de se fazer uma racionalização do espaço urbano, esta acabou com o terremoto de 23 de dezembro de 1972, que levou quase todas as construções abaixo. Ao lado do Palácio Nacional, sede do Executivo, estão ainda as ruínas da antiga catedral, jamais recuperada.

Assim, nicaragüenses se acostumaram a indicar posições geográficas dentro da cidade através de pontos de referência. A sede da ONU em Manágua, por exemplo, fica ¿400 metros ao sul da Praça Espanha¿. O Instituto de Estudos Estratégicos e Políticas Públicas fica, ¿a partir de Ginásio Hércules, 2 quadras ao sul, 1 quadra acima¿. Trata-se de uma pequena ladeira, não muito íngreme. (R.G.)