Título: A VOLTA POR CIMA DE SCHWARZENEGGER
Autor: Cristina Azevedo
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O Mundo, p. 35

Governador da Califórnia supera baixa popularidade, contrata assessores democratas e lidera pesquisa para reeleição

SACRAMENTO, Califórnia. ¿He will be back¿ (ele vai voltar), diz a frase final do anúncio de TV de Arnold Schwarzenegger, candidato à reeleição no governo do estado da Califórnia. Pelo que tudo indica, a citação ao seu maior sucesso como ator ¿ ¿O exterminador do futuro¿ ¿ vai se concretizar no próximo dia 7. Segundo as pesquisas, Schwarzenegger tem 48% das intenções de voto, contra 30% do desafiante democrata, o secretário de Tesouro estadual Phil Angelides, numa eleição que pode consolidar a carreira política do ex-ator.

Em tempos de escândalos envolvendo republicanos, reações à morte de soldados americanos no Iraque e a popularidade em baixa do presidente George W. Bush, Arnie (como os americanos o chamam) mostra-se como ¿um espírito independente¿ e defende a ¿valorização do bipartidarismo¿ no anúncio de TV ¿ numa estratégia que começou a desenvolver no início do ano e com a qual conseguiu atrair muitos democratas.

¿ Ele procura ficar distante de questões culturais e sociais, que dividem mais os eleitores. Além disso, é mais progressista. Está de acordo com medidas que beneficiam homossexuais e tem um apelo mais secular aos democratas. E apesar disso, as pesquisas mostram que deve receber 95% dos votos dos eleitores contra o aborto ¿ observa Sal Russo, consultor político que foi assessor de Ronald Reagan no governo da Califórnia e trabalhou na campanha de George Pataki ao governo de Nova York. ¿ Quando o candidato tira questões de valores da mesa por um tempo e corta impostos, ganha mais apoio.

Índice de popularidade já foi um dos mais baixos

Um republicano conquistar apoio na Califórnia não é tarefa fácil, mas em Sacramento, capital do estado, muitos estão entusiasmados com a reeleição do governador, já transformado numa espécie de atração turística local. Nas ruas da cidade velha, várias lojas exibem camisetas do governator, numa brincadeira com o título do filme, além de estamparem seu rosto em canecas, venderem bonecos dele e até caixas de pastilhas de menta com suas frases.

¿ A sua reeleição é boa para os negócios, mas não é só por isso que torço por ele. Ele cortou impostos e assim mesmo equilibrou o orçamento ¿ defende Alex Haq, eleitor independente de origem paquistanesa e dono de uma loja de suvenires.

Um ano atrás essa opinião poderia ser diferente. Em novembro de 2005, o governador tinha um dos índices de popularidade mais baixos da história do estado. O sinal de alerta soou quando perdeu uma eleição sobre propostas que ele mesmo convocara. Começou aí a sua guinada. Contratou conselheiros democratas e passou a defender medidas geralmente associadas ao principal partido de oposição, como redução de emissão de gases de efeito estufa, além de aumentar o salário mínimo estadual, o que ele próprio rejeitara duas vezes antes.

Restava ainda o calcanhar-de-aquiles a todo republicano: a guerra no Iraque, com Angelides tentando associá-lo ao governo Bush, enquanto o governador acusava o oponente de não apoiar o combate à poluição. O golpe final do governator veio no início de novembro. No programa de entrevistas de Jay Leno, Schwarzenegger declarou:

¿ Tentar me associar a George Bush é como me associar ao Oscar ¿ disse o ator, mais conhecido pelos músculos do que pelo talento dramático.

Em outra questão delicada, Schwarzenegger fez sua mais dura crítica ao governo Bush, ao afirmar que ¿muitos erros¿ foram cometidos no Iraque e que era preciso encontrar ¿uma estratégia de saída.¿

Schwarzenegger foi eleito em 2003, após os californianos colocarem para fora o governador Gray Davis, no que eles chamam de recall election. Se vencer no dia 7, terá o seu primeiro mandato completo. Mas muitos eleitores ainda olham com desconfiança essa sua guinada para o centro, temendo se tratar apenas de uma medida eleitoreira. Alguns especialistas, no entanto, vêem aí a única chance de o ¿exterminador¿ consolidar sua carreira política.

¿ Ele não veio das fileiras partidárias republicanas e é casado com Maria Shriver, uma Kennedy ¿ observa John Wildermuth, veterano jornalista político do ¿San Francisco Chronicle¿. ¿ Se quiser deixar um legado e chegar ao Congresso pela Califórnia, tem que continuar nesse caminho.

A repórter viajou a convite do Departamento de Estado dos EUA