Título: Mangas de fora
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 03/11/2006, O GLOBO, p. 2

A disputa eleitoral entre governo e oposição se encerrou com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Começa agora a disputa política dentro do governo pela divisão do poder nos ministérios. O PT, que conseguiu superar seus erros e desacertos, depois de um ano e meio encolhido, voltou à cena com uma fome de anteontem. Parece que os petistas não aprenderam com a crise.

A soberba voltou e os petistas fazem de conta que nada aconteceu. O governo de coalizão com o PMDB sumiu do discurso. Uma ala do partido tenta derrubar o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Outro grupo pede a cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na Câmara, o PMDB elegeu a maior bancada, mas os petistas já se movimentam para ocupar a presidência da Casa. O presidente Lula tem pela frente longos quatro anos de mandato, mas os petistas já começam a fazer conjecturas para 2010. Falam até em candidaturas. O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, nem tomou posse e já virou candidato à sucessão de Lula. A ex-prefeita Marta Suplicy é cogitada para o Ministério com a missão de ser candidata.

¿ O presidente acaba de ser reeleito com uma votação consagradora. É preciso ouvir as urnas e deixar o homem trabalhar. Parece até que vai ter uma nova eleição ¿ protesta o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

O presidente Lula teve que intervir na questão econômica, mandando todo mundo calar a boca. Na área política ele ainda não botou a mão e os petistas, ciosos do que consideram seus cargos por direito divino, se dedicam a lançar farpas contra o PMDB. O principal argumento petista para barrar a entrega de um maior espaço no governo ao PMDB é a falta de unidade. Mas, para resolver este problema, basta o presidente Lula fazer o que fez com o PT. Em 2002, Lula dividiu o Ministério com as tendências e os vários subgrupos dos moderados. O PT tinha que ser mais leal. Os petistas gaúchos ganharam quatro pastas, os baianos duas e os paulistas, ministérios e cargos nos bancos oficiais.

Os petistas, que perderam nas urnas a condição de maior bancada, querem agora impedir que o PMDB indique o presidente da Câmara. Argumentam que o aliado não poderia presidir as duas Casas, pois o PMDB também tem a maior bancada do Senado. Está em gestação a primeira disputa na base aliada. No passado, a ambição petista, e a omissão do presidente Lula, colocaram a presidência da Câmara nas mãos de Severino Cavalcanti. Será que a história vai se repetir?