Título: As contas do primeiro turno
Autor: Adriana Vasconcelos, Bernardo de la Peña e Maria L
Fonte: O Globo, 03/11/2006, O País, p. 3

Onze governadores gastaram pelo menos R$83,1 milhões para se eleger

As campanhas eleitorais de 11 dos 17 governadores eleitos no primeiro turno custaram pelo menos R$83,1 milhões, segundo informações prestadas pelos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre os governadores eleitos no primeiro turno, 15 declararam ter arrecadado R$121,3 milhões. As informações parciais foram divulgadas pelo TSE ontem, dia seguinte ao prazo final para os eleitos no primeiro turno prestarem contas.

Entre os eleitos cujas prestações de contas constavam no site do TSE, o governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi o que declarou maior gasto: R$20,2 milhões. Mas o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), não teve os custos de campanha divulgados por falha técnica do TSE.

O comitê estadual do PSDB gastou R$53,3 milhões, o que pode ter sido um dos maiores gastos num só estado, já que São Paulo é o maior colégio eleitoral do país. Como na eleição presidencial, a Lei Eleitoral prevê que os partidos nos estados podem fazer prestações de contas separadas: uma para o candidato e outra para os comitês partidários. Os gastos informados pelo comitê estadual do PSDB-SP não fazem parte da conta de R$83,1 milhões de despesas para eleger os 11 governadores no primeiro turno.

Serra foi o campeão de arrecadação, com R$25,9 milhões. Dono da segunda campanha mais rica do primeiro turno, Aécio recebeu R$19,4 milhões em doações registradas. A maior delas, de R$900 mil, foi do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia). Outras grandes corporações engordaram o caixa de Aécio: Sadia (R$350 mil), Gerdau Açominas (R$400 mil) e Sodepa (R$500 mil).

O governador eleito em primeiro turno que declarou gastos menores foi o de Roraima, Otomar Pinto: R$1,9 milhão. Outro problema técnico do TSE impediu a consulta aos gastos do governador reeleito do Piauí, Wellington Dias (PT). Mas ele foi o que declarou ter arrecadado menos: R$460 mil. Receita e despesa do petista podem ter sido registradas no comitê estadual, cujas contas não estavam disponíveis ontem.

Comitê de Lula deu R$ 759,8 mil para Wagner

Os governadores eleitos no segundo turno têm até 30 de outubro para prestar contas das suas campanhas. A mesma regra vale para os candidatos à Presidência da República.

Dos quatro petistas eleitos no primeiro turno, dois não receberam ajuda do diretório nacional do PT ou do comitê financeiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Wellington Dias e Arnóbio Marques de Almeida Júnior, o Binho Marques, do Acre. O novo governador do Acre declarou ter arrecadado R$2,2 milhões. A maioria das doações para a campanha de Binho, entretanto, é de valores baixos, de R$30 a R$1 mil. A maior contribuição foi de R$100 mil, da Aracruz Celulose. Dos R$4,2 milhões arrecadados pelo governador eleito da Bahia, o petista Jaques Wagner, R$369 mil saíram do diretório nacional do PT e R$759,8 mil da campanha de Lula. Dos R$2,2 milhões que o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT), arrecadou, R$100 mil eram do diretório nacional do PT e R$769,1 mil do comitê financeiro de Lula.

O empresário Eike Batista, que atua em mineração, metalurgia e energia, financiou várias candidaturas a governo. Uma das maiores doações recebidas pelo governador eleito de Mato Grosso do Sul, André Puccineli (PMDB), foi feita por ele: R$400 mil. Eike também deu R$200 mil a Cid Gomes (PSB), governador eleito do Ceará, onde o empresário tem uma usina térmica.

As grandes usinas de álcool e açúcar de Mato Grosso do Sul deram as maiores doações para Puccineli. As da Tavares e Melo Álcool e Açúcar somaram R$660 mil. Puccineli teve entre os cinco maiores doadores a Klabin (R$120 mil), a Usina Equipav de Açúcar e Álcool (R$300 mil, e a Usina Monte Alegre (R$200 mil).

Um dos maiores produtores de soja do mundo, o governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), embutiu a maioria das doações no Comitê Financeiro Único PPS-MT, sem discriminar doadores. Uma de suas empresas, a Agropecuária Maggi, doou R$89,9 mil. A maior doação foi da Gramarca Distribuidora de Veículos (R$577,9 mil). Gordas foram também as doações de frigoríficos, como o Marfrig (R$200 mil).

O governador reeleito do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), recebeu doações das empresas instaladas na Zona Franca de Manaus. Entre os maiores doadores estão a Semp Toshiba Amazonas, com três doações registradas que somam R$575 mil. A Gradiente doou R$450 mil. A receita declarada por Braga chegou a R$8,8 milhões.

O senador tucano Teotônio Vilela Filho, eleito governador de Alagoas, arrecadou R$7,7 milhões. Sua candidatura contou com a colaboração dos usineiros. Só a Cooperativa Regional dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas fez 12 doações, totalizando R$1,7 milhão.