Título: Direitista e chavista vão ao 2º turno
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Fonte: O Globo, 16/10/2006, Internacional, p. A9

O candidato populista de direita Álvaro Noboa e o nacionalista de esquerda Rafael Correa dividiram o eleitorado na eleição presidencial de ontem no Equador e disputarão um segundo turno em 26 de novembro, segundo pesquisas de boca-de-urna. Pela sondagem do Cedatos/Gallup, Noboa obteve 27,2% dos votos e Correa, 25,4%. Já a pesquisa do Informe Confidencial aponta o direitista com 28,5% e o esquerdista com 26,5%.

Resultados parciais divulgados ontem à noite pelo Tribunal Superior Eleitoral do país confirmaram as bocas-de-urna: com 51% dos votos apurados, Noboa tinha 27,5% e Correa 21,9%. Em terceiro lugar, estava o social-democrata León Roldós, com 15,8%. Para vencer no primeiro turno, um dos dois candidatos teria de ter obtido mais de 50% dos votos, ou pelo menos 40% dos votos válidos e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado.

Correa, da Aliança País, liderava as pesquisas pré-eleitorais, mas nos últimos dias vinha perdendo terreno para Noboa, do Partido Renovador Institucional Ação Nacional, que disputa a presidência pela terceira vez. O esquerdista desconheceu as bocas-de-urna, dizendo que qualquer coisa que não seja seu triunfo já no primeiro turno 'significa fraude e graves irregularidades'. Ontem ele pediu que a Organização dos Estados Americanos retirasse do país o chefe de sua equipe de observação, o ex-chanceler argentino Rafael Bielsa, acusando-o de não reconhecer 'irregularidades no processo' eleitoral.

Noboa comemorou as bocas-de-urna dizendo que 'o povo acaba de dar o melhor corretivo possível a um amigo de terroristas, do (presidente da Venezuela) Hugo Chávez e de Cuba', disse o candidato, que já anunciou que pretende cortar relações políticas com os dois países.

Dono de uma das maiores exportadoras de banana do mundo, Noboa, de 56 anos, é o homem mais rico do Equador e focou sua campanha na promessa de construir casas, criar empregos para possibilitar a ascensão da população pobre à classe média e defender a assinatura de tratados de livre comércio com os EUA.

Classificado de comunista por Noboa, o esquerdista Correa, de 43 anos, prega a proibição de pactos comerciais com os EUA, uma mudança constitucional para fortalecer os poderes presidenciais e a realização de uma 'revolução dos cidadãos'. Aliado de Chávez, o ex-ministro das Finanças também já mostrou simpatizar com a nacionalização do setor de gás e petróleo feita pelo boliviano Evo Morales em maio, declarando que pretende revisar e renegociar os contratos petrolíferos do Equador. O país exporta 68% de sua produção de 540 mil barris diários.

Quem vencer o segundo turno tomará posse em 15 de janeiro. Os três últimos chefes de Estado foram destituídos por protestos em massa, causados por promessas não cumpridas e denúncias de corrupção. Os equatorianos também votaram ontem para renovar as 100 cadeiras do Congresso e eleger 664 vereadores.