Título: Vou fazer regularização fundiária no Pará¿
Autor:
Fonte: O Globo, 03/11/2006, O País, p. 8

Governadora eleita admite problemas no primeiro mandato de Lula e diz que agora é hora de corrigir erros e roubos

BELÉM. A senadora do PT Ana Júlia Carepa ganhou de virada a eleição para o governo do Pará, derrubando 12 anos de poder dos tucanos no estado. Ela já planeja as ações para o governo e, na semana que vem, se reúne com o presidente Lula para listar as prioridades paraenses. Diz que vai criar um bloco amazônico de governadores, encarar a Companhia Vale do Rio Doce e lutar pela reforma tributária. Sobre o PT, diz que o partido acertou mais do que errou e que o segundo mandato de Lula será também para corrigir os roubos. A senadora fraturou a perna ao cair de um caminhão, no que chamou de momento mais difícil da campanha. Apoiada por Jader Barbalho (PMDB), investigado em vários escândalos de corrupção, Ana Júlia diz que o PMDB terá cargos em seu governo, assim como outros aliados, mas que quem cometer deslizes será demitido.

`Se cometer erros, exonero¿

Quais são as prioridades da Amazônia?

ANA JÚLIA: Estamos construindo prioridades. Tive um diálogo com o governador do Amazonas, e queremos reunir os governadores para levar ao presidente as prioridades. Vamos fazer um bloco de governadores para ficarmos mais fortes. Em vez de ficar brigando com o governador do Amazonas, porque ali tem Zona Franca, ou do Acre, ou do Amapá, quero me juntar a eles para trazer mais desenvolvimento para a região. Quero apoiar o presidente para aprovar uma reforma tributária que acabe com a guerra fiscal. Quero proteger o Pará dessa guerra fiscal que é predatória.

Como avalia os escândalos do primeiro mandato de Lula?

ANA JÚLIA: Aprendemos mais com erros do que com acertos. Alguns não aprenderam com os erros, e esses não merecem mais fazer parte do governo nem estar no PT, pois não estão à altura do desafio que é governar como o Lula tem feito, apesar das dificuldades. Eu repito: deixem o ¿homem¿ trabalhar. Quero ajudar o ¿homem¿ a trabalhar. Lula acertou mais do que errou. Agora, não podemos negar que os erros aconteceram. E que foram pessoas do partido que erraram. Não temos medo de assumir nossa culpa. Somos vistos sempre como coletivo, então temos que assumir a responsabilidade. Assumo a responsabilidade enquanto membro do partido, mas vamos procurar fazer um governo para não errar ou errar o menos possível. Confio num excelente segundo mandato porque iremos corrigir erros. Mais que isso: iremos corrigir roubos.

Como será a relação com a Companhia Vale do Rio Doce?

ANA JÚLIA: Será respeitosa. A Vale é importantíssima, pois sozinha é responsável por um percentual de PIB muito grande. Mas vamos garantir os interesses do Pará. Quero uma discussão séria sobre a verticalização da produção mineral e a garantia de matéria-prima para nossas siderúrgicas. Vou discutir com o governo federal a necessidade de termos um termo de ajuste de conduta da Vale, que garanta matéria-prima legal e sustentável para nossas indústrias.

O PMDB, de Jader Barbalho, foi um dos principais responsáveis por sua vitória. Como será a relação com o partido?

ANA JÚLIA: O PMDB vai ter cargos, como outros aliados. Estamos conversando com os partidos. É engraçado, porque, quatro anos atrás, o PMDB foi responsável pela vitória do atual governador, do PSDB. E o Jader era bom antes. Por que não é bom agora? Dois anos atrás, o PMDB fazia parte do atual governo. Simão Jatene procurou Jader Barbalho e ninguém achou ruim. Possuo um programa de governo. Os partidos vão indicar nomes, mas a governadora pode assinar a indicação. Vai depender da pessoa estar dentro de um critério que vai combinar direção política, compromisso com o governo, competência. Essa pessoa terá que ser absolutamente ética. Esse é o critério para participar do governo. Se cometer erros, exonero.

o estado para acabar com as disputas violentas pela terra

Como administrar um estado campeão de escravidão e onde a luta pela posse da terra é sempre violenta?

ANA JÚLIA: Vou fazer uma regularização fundiária no estado. É o primeiro passo. O Pará é grande. Tem terra para grandes, médios e pequenos produtores. Não tem sentido essa disputa violenta pela posse da terra. Mas aviso: não vamos admitir que se derrube a floresta para ter monocultura, como a da soja. Se quiserem trabalhar dentro da legalidade, sem desmatamento e sem grilagem de terra, daremos apoio. Mando um recado aos madeireiros: quem quiser trabalhar na legalidade vai ter meu apoio. Precisa ter uma fase de transição para a regularização. Quem está há 25 anos sem regularização alguma tem que ter fase de transição, porque há muita gente que quer trabalhar na legalidade, e não podemos atrapalhar isso.