Título: Acordo para levantar vôo
Autor: Monica Tavares, Eliane Oliveira e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 03/11/2006, Economia, p. 19

Em troca de promessas do governo, controladores aceitam aumentar carga horária

Um acordo entre governo e controladores de vôo, anunciado ontem à noite, suspendeu a operação-padrão no sistema de controle do tráfego aéreo no país. Depois do caos que perdurou por sete dias, o objetivo foi tentar garantir a normalização do fluxo de passageiros nos aeroportos a partir de hoje. Só ontem, feriado de Finados, a estimativa da Infraero era de que 600 vôos sofreram atrasos em todo o país e dezenas de outros foram cancelados. Em alguns casos, como Brasília, a demora nos embarques chegaram a 18 horas.

Para agilizar as operações em aeroportos, aposentados serão chamados para assumir funções secundárias (como passar informações do fluxo de vôos por telefone). Com isso, os controladores mais experientes seriam deslocados para atuar em áreas prioritárias. Além disso, haverá um aumento de carga horária a partir de hoje.

O acordo só foi possível com a promessa do ministro da Defesa, Waldir Pires, de que, a partir de segunda-feira, as reivindicações da categoria ¿ como a regulamentação e a desmilitarização da profissão e a contratação de pessoal ¿ serão atendidas. O entendimento contou com a participação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

Os acertos foram feitos numa videoconferência, que durou mais de três horas, entre os ministros Waldir Pires e Luiz Marinho, o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, e seu diretor-técnico, Ernandes Pereira da Silva, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, além de representantes da Infraero e de profissionais de controle de tráfego de Brasília.

Segundo Ernandes Pereira, o tráfego aéreo deverá começar a se normalizar a partir de hoje nos estados do Sudeste. Os atrasos não deverão passar de meia hora.

¿ Esperamos ter chegado ao fim dos desentendimentos em todas as áreas, para que tenhamos neste fim de semana normalizado a situação do tráfego aéreo ¿ acrescentou o ministro da Defesa. ¿ É dever do governo garantir o direito de ir e vir dos cidadãos e o Estado não pode ser refém de uma categoria.

¿ Vamos dar nossa última gota de sangue ¿ disse Pereira.

Às 3h da madrugada, as autoridades aeronáuticas constataram que houve completa paralisação do tráfego aéreo no país. Isso fez o Comando da Aeronáutica convocar, antes do amanhecer, 149 controladores de vôo. Todos foram intimados a comparecer à Base Aérea de Brasília, onde fica o Cindacta 1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo). Às 5h30, a Aeronáutica anunciou novas escalas de trabalho e estipulou 24 profissionais por turno de trabalho (são três). No fim do dia, fontes informaram que ainda havia controladores no quartel de prontidão.

Segundo o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, a idéia era pôr em prática uma força-tarefa que pudesse garantir a normalidade nos terminais aeroportuários, principalmente no domingo e na segunda-feira, na volta do feriadão. Os controladores foram ameaçados de punição, incluindo prisão, se não atendessem ao chamado da Aeronáutica.

¿ Estamos agindo dentro dos nossos regulamentos. Se o convocado se recusar, tem detenção, repreensão. Ninguém se recusou a comparecer e todos estão sendo bem tratados. Há lugar para todos, com alojamento e alimentação ¿ afirmou Bueno.

Dos controladores convocados, oito alegaram estar sem condições psicológicas para trabalhar e foram dispensados. O comandante da Aeronáutica informou que, até segunda-feira, outros 18 controladores ¿ 11 da reserva, que aceitaram voltar ao trabalho, quatro remanejados e três de operações militares que foram transferidos para o serviço civil ¿ estarão a postos no Cindacta.

Ontem, no Rio, dos 75 vôos do aeroporto Antônio Carlos Jobim (Galeão), sete foram cancelados e 68 tiveram atrasos de 45 minutos a três horas, em média. Em alguns casos, o atraso chegou a 14 horas. No aeroporto Santos Dumont, dos 63 vôos previstos, 31 foram cancelados. Os vôos da Gol em todo o país sofreram atrasos de cinco horas, em média, segundo a empresa. O balcão da companhia no Galeão era o mais movimentado. Passageiros com ânimos exaltados quebraram o teto do check in da empresa. A TAM teve 20 vôos cancelados e chegou a suspender a venda de passagens pela manhã.

DIA DE CAOS NOS AEROPORTOS, na página 20.