Título: EUA E VENEZUELA TENTAM INTERFERIR NO PLEITO
Autor: Renato Galeno
Fonte: O Globo, 03/11/2006, O Mundo, p. 25

Nicarágua revive tempos de Guerra Fria, quando era peça importante na geopolítica

MANÁGUA. ¿Parece que domingo serão as eleições do mundo, e não da Nicarágua. Ninguém tem que dar qualquer opinião sobre as eleições, apenas os nicaragüenses¿. A frase aparentemente óbvia foi dita ontem, em tom irritado, por Roberto Rivas, presidente do Conselho Supremo Eleitoral da Nicarágua. E retrata uma realidade que tem um significativo impacto neste pequeno país. EUA de um lado, Venezuela de outro, os dois países tentam influenciar o pleito.

Organizador de Irã-Contras visita Manágua

A Nicarágua se tornou um território importante no xadrez da Guerra Fria durante a Revolução Sandinista, que tomou o poder derrotando a ditadura de Anastacio Somoza em 1979. Naquela época, o regime da família Somoza ¿ que assumira o poder em 1934 ¿ tornara-se tão corrupto que perdera o tradicional apoio americano, iniciado no início do século XX (a Nicarágua teve a presença de fuzileiros navais dos EUA em seu território de 1912 a 1933). Mas já a partir de 1982, o governo de Ronald Reagan passou a financiar os Contras, milícias que lutavam contra o governo comunista de Daniel Ortega que, por sua vez, recebia apoio de Cuba.

Passados 16 anos da saída de Ortega do poder, em 1990, a Nicarágua foi surpreendida há duas semanas pela visita do americano Oliver North. O ex-militar dos EUA foi organizador da operação Irã-Contras, esquema no qual os EUA vendiam armas superfaturadas para o Irã (então em guerra com o Iraque) e, com o dinheiro excedente, financiava os Contras. Depois de descoberto, os responsáveis foram expulsos do governo e os EUA, condenados por violação dos direitos humanos em Haia.

Ainda assim, North foi bem recebido. O americano disse que não apoiava qualquer candidato, mas jantou e tirou fotos sorridentes ao lado de José Rizo, candidato do PLC.

¿ Um triunfo de Ortega seria o que de pior pode acontecer a este país ¿ disse North.

Porém, a maior pressão eleitoral teve outros personagens. A deputada republicana Dana Rohrabacher solicitou à Casa Branca um plano de contingência para o caso de Ortega vencer. Até mesmo o secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutiérrez, disse que uma vitória de Ortega poria em risco os investimentos e o comércio. Contrabalançando a pressão americana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tenta auxiliar a candidatura de Ortega, com petrodólares. Organizações internacionais já pediram que deixem que os problemas da Nicarágua sejam resolvidos pelos nicaragüenses. (R.G)