Título: Partidos não se entendem sobre reforma política
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 11

Apesar das promessas de campanha, grandes legendas fazem corpo mole e não devem aprovar relatório

BRASÍLIA. Passada a eleição, os partidos não se entendem sobre como tirar do papel a reforma política ¿ citada como unanimidade nacional desde a eclosão da crise política no governo Lula, em junho de 2005. Na campanha eleitoral o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que a reforma política seria prioridade de seu segundo mandato e os candidatos de oposição também defenderam sua realização.

Os grandes partidos estão fazendo corpo mole e não devem votar o relatório do deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO). Os partidos que chegaram aos 5% dos votos para a Câmara, atingindo a cláusula de desempenho, não querem mais reduzir o piso de votação para 2%. As cúpulas do PSDB e do PFL mudaram de posição na campanha eleitoral, abandonaram o apoio ao voto em listas fechadas de candidatos e passaram a defender a adoção do voto distrital misto.

¿ Essa enganação de voto distrital é um argumento dissimulado de quem não quer mais fazer reforma política. Todos sabem que nessa matéria não há votos para aprovar emendas constitucionais. Mudanças somente por leis ordinárias, que exigem quórum de maioria simples ¿ critica Ronaldo Caiado.

Independentemente do julgamento de intenções, sem a formação de uma maioria em torno de uma proposta de reforma política, o Congresso corre o risco de mais uma vez adiar a conclusão de uma reforma em seu sistema político que começou em 1996, no governo Fernando Henrique, quando foi aprovada a cláusula de desempenho, que entrou em pleno vigor nestas eleições.

Jutahy cobra proposta aglutinadora do PT

Realista, o líder do PSDB, deputado Jutahy Magalhães Junior (BA), só vê uma maneira da reforma ser feita.

¿ Qualquer reforma política precisa de maioria, e sobretudo de uma proposta aglutinadora. Se o governo, ou o PT, não apresentarem uma proposta básica, negociada previamente entre eles, as coisas não vão andar ¿ afirma Jutahy Magalhães.

A esta altura apenas a adoção de regra que institui a fidelidade partidária, impedindo o troca-troca partidário, tem o apoio de todos os partidos.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), informou que os tucanos vão rediscutir o assunto e que ainda não tem posição formada sobre a introdução do financiamento público das campanhas eleitorais.

Tasso antecipou que os tucanos não aceitam mais aprovar o voto em lista fechada de candidatos, como consta do relatório Caiado, e querem agora a implantação do voto distrital misto (uma parte dos eleitos sai de eleições majoritárias em distritos e outra parte sai da votação proporcional).