Título: Fase é de desmanchar palanques¿
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 12

O governador eleito de Sergipe está na linha de frente dos que defendem mudanças no comando do PT e uma nova relação do Planalto com governadores e partidos. Ele cobra uma reforma do sistema político-partidário para mudar a relação de toma-lá-dá-cá entre o Palácio do Planalto e o Congresso.

Como garantir a governabilidade agora?

MARCELO DÉDA: O presidente tem dito que o espírito do segundo mandato é a construção do diálogo. A contrapartida não é que a oposição deixe de fazer oposição. Construir agenda nacional não é dizer que você não discorde no mérito, mas é preciso ter diálogo sobre agenda e procedimentos.

O que estará na agenda?

DÉDA: Reforma política, a reforma tributária, a questão da Previdência. Há vários pontos. Quando o presidente fala em diálogo, não está querendo desnaturar a oposição ou cooptar setores adversos. Quando a gente fala na conversa dos governadores, vai haver pontos polêmicos. Dialogar não é abrir mão das divergências, mas saber que elas não podem se eternizar.

Entre os governadores há entre pessoas que fizeram oposição, como Yeda Crusius e José Serra.

DÉDA: A fase é de desmanchar os palanques. O comportamento da governadora Yeda Crusius como deputada decorria do fato de ela ser da oposição. Serra disputou eleição contra Lula e é natural que o enfrentamento fosse mais duro. Agora ambos são governadores e não vão se furtar a dialogar com o governo. Qualquer posição sectária seria prejudicial às populações de seus estados.

Qual é seu desafio em Sergipe?

DÉDA: Fazer avançar um processo de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida dos mais pobres.

Como combinar crescimento econômico com distribuição de renda?

DÉDA: No primeiro mandato, o presidente demonstrou coragem em avalizar uma disciplina fiscal que desse condições de fortalecer a política macroeconômica. Agora o país precisa crescer, porque será através do crescimento que encontraremos as condições de propiciar distribuição de renda mais justa.

Como melhorar a relação entre Planalto e Congresso?

DÉDA: Enquanto não tivermos coragem para enfrentar a estrutura político-partidária, o risco será sempre presente. Precisamos de um sistema político-partidário que não dependa só da virtude dos governantes, mas que seja institucionalizado. A reforma política é prioritária. É preciso partidos fortes e novas regras. Quando isso acontecer, o risco de processos antiéticos será reduzido.

O senhor vê espaço para a despaulistização do PT?

DÉDA: Para não parecer uma questão regional ou preconceito, prefiro usar nacionalização. São Paulo deu contribuição indiscutível na construção do PT. Queremos que o partido incorpore novas vozes, considere o processo de fortalecimento em outros estados, de modo que a agenda traduza a realidade do PT no Brasil inteiro.