Título: DESENVOLVIMENTISTAS X MONETARISTAS
Autor: Luciana Rodrigues, Patricia Duarte e Martha Beck
Fonte: O Globo, 04/11/2006, Economia, p. 34

Receita para o país crescer esquenta debate entre economistas

Passada a eleição, o governo dá sinais de estar dividido entre o crescimento desenvolvimentista da campanha e a ortodoxia do primeiro mandato do presidente Lula. Enquanto o debate esquenta, o secretário adjunto de Política Econômica, Nelson Barbosa, revela que, independentemente da opção, a expansão de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) prometida por Lula para 2007 tem um preço. Além de manter a taxa de juros em queda, será preciso segurar os gastos correntes, o que inclui a contenção dos reajustes do setor público e do salário mínimo, além das despesas de custeio da máquina pública.

Para os desenvolvimentistas, a fórmula para crescer mais é relativamente simples. O corte mais rápido dos juros traria uma economia significativa ¿ grosso modo, R$5 bilhões a cada meio ponto percentual da Selic ¿ no pagamento dos encargos da dívida pública, liberando recursos para investimentos.

¿ A queda dos juros para cerca de 12% até o fim de 2007, combinada à manutenção do superávit primário em 4,25%, fará a dívida pública cair dos atuais 50,1% para 47% do PIB ¿ diz Barbosa, ressaltando que o governo vai manter a política de distribuição de renda e ¿aprofundar o papel do Bolsa Família¿.

Para o ex-diretor do Banco Central e professor da PUC Ilan Goldfajn, é legítimo que o governo queira proteger um determinado gasto. A chave, diz, é ter controle sobre o gasto total. Argumentar contra isso seria irresponsabilidade fiscal.

¿ Todos querem o desenvolvimento, mas é preciso cortar gastos, a curto prazo, para abrir espaço para o investimento e, a longo prazo, para melhorar a educação ¿ diz Goldfajn, acrescentando que ¿não basta reduzir juros e continuar com uma carga tributária pesada¿.

Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) João Sicsú, a redução dos juros provocaria economia de aproximadamente 3% do PIB e o equilíbrio do orçamento. Sicsú também defende ações específicas sobre os preços administrados ¿ que sobem em média o dobro dos preços livres ¿ e o câmbio, hoje focos de inflação.

Já monetaristas vêem potencial inflacionário nas propostas desenvolvimentistas.

¿ Sou careta, liberal, monetarista, como quiserem. Com a economia próxima da plena capacidade, se os juros caírem rápido, a inflação volta ¿ afirma Samuel Pessoa, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por sua vez, insiste na reforma da Previdência:

¿ Não há nada mais desenvolvimentista do que reduzir a relação entre o gasto corrente e o PIB. E a melhor forma de fazer isso é aprovar uma reforma da Previdência.