Título: PAÍSES REJEITAM MURO NA FRONTEIRA DO MÉXICO
Autor:
Fonte: O Globo, 04/11/2006, Economia, p. 37

Documento aprovado condena políticas xenófobas e racistas

MONTEVIDÉU. O documento aprovado pelos chanceleres dos 22 países presentes à XVI Cúpula Ibero-Americana foi visto como uma pressão à política americana de imigração, que planeja construir um muro na fronteira dos EUA com o México. Na semana passada, o presidente dos EUA, George W. Bush, aprovou a legislação que determina a construção de 1.126 quilômetros de cerca, iniciativa condenada pelo México.

Os países ibero-americanos se comprometem a ¿respeitar as normas nacionais de todos os Estados e os tratados internacionais nos processos migratórios¿. O documento também pede que sejam geradas ¿condições sociais e econômicas para tornar possível o retorno voluntário dos imigrantes para suas comunidades de origem¿. Além disso, os países querem incorporar o tema ¿nas campanhas nacionais de informação e educação¿, assim como promover a formação de funcionários e lançar ¿programas para prevenir e combater práticas discriminatórias, xenófobas e racistas¿.

Os chefes de Estado e de governo ibero-americanos, por sua vez, se obrigam a impulsionar ¿campanhas de sensibilização sobre os riscos de migrar de maneira ilegal¿.

Texto foi aprovado por consenso

Por pressão mexicana, a questão do muro foi abordada explicitamente no documento. ¿Expressamos nossa profunda preocupação com respeito à decisão adotada pelo governo dos Estados Unidos¿, diz o texto, acrescentando que os líderes ibero-americanos fazem um firme pedido para que os americanos reconsiderem a decisão. Segundo uma fonte presente à cúpula, houve consenso para aprovar o pleito mexicano.

Com assunto da imigração na ordem do dia, as ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros líderes, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o do Peru, Alan García, foram especialmente sentidas.

O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, classificou o muro de ¿vergonhoso¿, acrescentando que o dinheiro gasto no projeto ¿teria sido melhor investido na educação das crianças do Sul¿.

A Casa Branca argumenta que a decisão é necessária para impor maior rigor ao controle das fronteiras, impedindo a entrada no país de criminosos e terroristas. O México, no entanto, afirma que o muro terá pouco efeito prático para coibir a entrada de imigrantes ilegais e vai certamente elevar o número de mortes na fronteira.

Apesar das ausências, o encontro trouxe à capital uruguaia personalidades importantes, como os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner; do México, Vicente Fox; e da Bolívia, Evo Morales. O rei Juan Carlos, da Espanha, foi recebido pelo presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez.