Título: O CHILE TEM SE SAÍDO BEM, MAS PODE MELHORAR¿
Autor: Daniela Santelices
Fonte: O Globo, 04/11/2006, Economia, p. 39

Ex-economista-chefe do FMI avaliará crescimento no Encontro Empresarial Latino-americano, patrocinado pelo GDA

SANTIAGO. Kenneth Rogoff irradia modéstia. É um dos economistas mais renomados dos Estados Unidos, professor da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Um homem que escreve apenas sobre política monetária e crise da dívida e que conhece bem o Chile. Mas que, apesar disso, afirma que quer aprender mais sobre o país quando chegar a Santiago no fim deste mês. ¿Quero fazer perguntas, ouvir as pessoas, tenho minha mente aberta¿, afirma o economista, que também é autor do livro ¿Fundamentos de macroeconomia internacional¿, com Maurice Obstfeld. Rogoff discursará sobre as forças que movem o crescimento no Encontro Empresarial Latino-americano (ELA) e no Enade 2006, dois eventos que serão realizados na capital chilena, nos dias 27 e 28 de novembro, respectivamente. O economista assegura que a expansão da economia chilena ocorrida nos últimos anos é bastante positiva, e que é necessário analisar esse tema a partir de uma outra perspectiva.

KENNETH ROGOFF: É um fenômeno cíclico. O crescimento do Chile ainda é alto. Não se podem olhar quatro anos e generalizar. Isso não quer dizer que não haja áreas em que melhorar. As leis trabalhistas são relativamente inflexíveis. Há uma baixa participação da mulher e um baixo índice de emprego juvenil. São necessários mercados financeiros mais estruturados para apoiar o crescimento das pequenas e médias empresas. Isso é importante porque vivemos em um mundo onde tudo muda rapidamente, e é preciso que se exponham às mudanças. Há formas de fazê-lo: capital de risco.

Com a flexibilização do mercado trabalhista e o aprofundamento do mercado de capitais, poderíamos crescer como a Ásia?

ROGOFF: O Chile tem se saído bem, mas pode fazer melhor. Deve melhorar o ambiente de negócios para as pequenas e médias empresas.

Uma das críticas é o baixo grau de inovação no Chile. Qual é sua opinião sobre a taxa de investimento entre 0,6% e 0,7% de nosso PIB em pesquisa e desenvolvimento?

ROGOFF: É muito baixo. Entre 2% e 3% seria melhor.

Há quem diga que inovar em tecnologia em um país como o Chile não é eficiente, que é melhor adaptar o que vem do exterior.

ROGOFF: Isso é um absurdo. A inovação é a chave do êxito e se expressa de modos diferentes. O importante é que haja mecanismos para financiar as inovações e que se removam obstáculos. Na Califórnia, não é raro que as pessoas falhem cinco vezes antes de obter êxito em um negócio, e os mercados de capitais se adaptaram a isso.

O que acha de termos milionários ingressos oriundos do cobre, mas sem um plano estratégico para gastá-los?

ROGOFF: É difícil para o governo prever o que acontecerá no mercado. Melhorar a educação é um bom investimento. Suécia, Dinamarca e Noruega são pequenos, ricos em recursos, e têm o mesmo problema.

O Chile sempre se mira na Austrália, onde o governo adotou uma estratégia com o setor privado. Isso é arriscado?

ROGOFF: A fonte de crescimento da Austrália não são os consórcios público-privados, a educação é muito importante.

O Chile deveria diversificar a economia, além do cobre?

ROGOFF: Tenho pensado no assunto, aplicado ao petróleo. Há países que, por história e orgulho nacional, têm estatais em que a diversificação é quase impossível, não querem projetos privados. Sobre o Chile, é complexo ter uma economia de 15 milhões de pessoas completamente diversificada. Os países têm metas de diversificar e ter economias de escala. Acho que esta última ganhará. Por isso, devem buscar a diversificação nos mercados financeiros.

(*) O "El Mercurio" faz parte do Grupo de Diarios América (GDA)