Título: Renan ganha apoio de Sarney para se reeleger
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 06/11/2006, O País, p. 5

Em troca, presidente do Senado, que luta para continuar no cargo, deverá ajudar Roseana Sarney a ganhar ministério

BRASÍLIA. Para impedir que a oposição eleja o próximo presidente do Senado, os governistas reforçaram a candidatura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à reeleição. A primeira providência foi tirar do PFL a condição de maior bancada do Senado, o que daria ao partido legitimidade para reivindicar o posto que está hoje nas mãos de Renan. Isso foi garantido com o anúncio da desfiliação da senadora Roseana Sarney (MA) do PFL.

Na expectativa de garantir uma vaga para a filha na próxima equipe ministerial, o ex-presidente José Sarney acertou numa conversa, na última quarta-feira à noite, o seu apoio à recondução de Renan à presidência do Senado. Em troca, espera o respaldo de Renan para uma possível indicação de Roseana a algum ministério. Um destino possível da senadora seria o Ministério das Minas e Energia, pasta considerada da cota de Sarney e que atualmente é ocupada por Silas Rondeau.

Roseana pode ficar algum tempo sem partido

Embora a ida de Roseana para o PMDB esteja praticamente acertada ¿ o que reforçaria o partido como maior bancada do Senado ¿, essa não será necessariamente uma precondição para a eventual nomeação de Roseana. A senadora maranhense embarcou na última semana para os Estados Unidos e, segundo alguns aliados, poderá ficar sem partido por algum tempo.

Embora esteja descartada, por enquanto, a hipótese de seu colega de bancada, Edison Lobão (PFL-MA), seguir os passos de Roseana, o gesto da senadora jogou água fria dos planos da cúpula pefelista de tentar emplacar o líder do partido, senador Agripino Maia (RN), à sucessão de Renan. Ele já avisou que não se desgastará em nenhuma aventura.

Já na Câmara, a briga promete ser ferrenha. Com bancada eleita de 89 deputados, o PMDB considera legítimo que lhe caiba a presidência da Casa. A despeito dos protestos da oposição e mesmo de outros partidos da base governista, para que os peemedebistas não fiquem com o comando das duas Casas do Congresso Nacional, pelo menos dois nomes já trabalham nos bastidores para viabilizar suas candidaturas: o baiano Geddel Vieira Lima e o ex-ministro Eunício Oliveira (CE), cada um com estratégia distinta.

Mais identificado com o governo Lula por ter sido ministro, Eunício tem se exposto mais. Na última semana, em rápida passagem por Brasília, defendeu o direito de o PMDB presidir a Câmara.

¿ Não estamos discutindo nomes ainda, mas a população deu ao PMDB, nas urnas, a maior bancada e o direito a presidir a Câmara. Não é reivindicação, é direito ¿ argumentou.

Geddel tem sido mais discreto. Embora só recentemente tenha se aliado ao governo Lula, o deputado baiano se credenciou como um dos principais interlocutores do PMDB com o Planalto, por ter contribuído para a eleição em primeiro turno do petista Jaques Wagner ao governo da Bahia, impondo derrota fragorosa ao grupo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Na tentativa de não se expor, ele preferiu permanecer no estado na última semana. Ele afirmou que a eleição no comando da Câmara passará necessariamente por um entendimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ Não fiz nem farei movimento para viabilizar qualquer candidatura à presidência que tenha um conflito como pano de fundo. Por tudo que passou a Câmara, a palavra de ordem é o entendimento, ainda que seja o possível. E, nessa visão, a opinião do governo não deve ser a única, mas deve ser levada profundamente em consideração ¿ disse Geddel.

Mais até do que a oposição, os petistas trabalham para pôr um freio na ambição dos peemedebistas, embora os líderes do partido admitam que qualquer solução para o comando da Câmara envolva um entendimento com o PMDB. Isso poderá custar caro a Lula. Se ele quiser realmente garantir a eleição de um representante do PT ¿ um dos nomes preferidos no Planalto é o do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), atual líder do governo na Casa ¿ para a presidência da Câmara, possivelmente terá de ampliar a participação do PMDB na sua equipe.

¿ O PMDB terá cinco ministérios e a presidência do Senado, além de outros cargos na Mesa da Câmara. Ficará bem contemplado ¿ pondera um deputado petista, acrescentando:

¿ As estratégias são muitas e há espaço para uma articulação política na qual a bancada majoritária poderá perder no voto.

Reeleição de Rebelo é rejeitada por petistas

Já Chinaglia desconversa sobre o assunto:

¿ Temos que respeitar o PMDB como maior bancada e é do processo de negociação entre as bancadas que vão sair as candidaturas fortes à presidência da Câmara.

Uma outra hipótese para o governo seria a reeleger o atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Mas petistas já rechaçam a idéia.

¿ O PT já foi bastante generoso com Aldo. O novo presidente sairá de uma articulação política é o importante é que tenha compromisso com a governabilidade, a independência e a valorização do legislativo ¿ afirmou o deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA).