Título: PARA SOCIÓLOGO, ESTÁ HAVENDO UM GENOCÍDIO
Autor: Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 06/11/2006, Rio, p. 10

Para o sociólogo Luiz Eduardo Soares, é preciso abrir a caixa-preta das estatísticas de autos de resistência, as supostas mortes em confronto com a polícia. Subsecretário de Segurança do Rio em 1999 e 2000, ele acredita que o exame minucioso dos registros, com perícia independente, revelaria execuções mascaradas através de registros de confronto. Luiz Eduardo classifica a média anual de mil mortos pela polícia como genocídio:

¿ Invariavelmente, a maior parte das vítimas é composta de pobres, negros e favelados ¿ argumenta.

O grande número de autos de resistência levou em maio a Comissão de Combate à Tortura e à Violência Institucional, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, a protocolar na Procuradoria Geral de Justiça do Rio um parecer jurídico, com um detalhado estudo sobre o grande número de mortes nas operações policiais do Rio e sobre o uso abusivo de autos de resistência para justificar crimes. O parecer foi feito por seis juristas ligados ao Instituto Pan-Americano de Política Criminal (Ipan) e tem por objetivo reforçar a representação impetrada no Ministério Público do Rio em 22 de setembro de 2005, em que foi proposta a instauração de uma ação civil pública para obrigar o estado a implantar um programa de redução da letalidade policial.

O documento usou como base uma pesquisa feita em 1993 pela ONG Centro de Justiça Global e pelo Grupo de Pesquisa de Violência e Criminalidade da Uerj, apontando a polícia do Rio como a que mais mata no país. Naquele ano, 1.195 pessoas foram mortas em confrontos. De acordo com o estudo da Uerj, em 83% desses casos nenhuma testemunha prestou depoimento. A maior parte das vítimas (65%) não tinha antecedentes criminais e 61% dos mortos levaram tiros na cabeça ou nas costas.