Título: MULTIS DE PAÍSES EMERGENTES AVANÇAM NO MUNDO
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 06/11/2006, Economia, p. 19

Empresas de nações em desenvolvimento triplicam investimentos no exterior, que chegaram a US$145 bi em 2005

No mesmo mês em que a Vale do Rio Doce arrematou a canadense Inco, a brasileira CSN se associou à americana Wheeling-Pittsburgh e a indiana Tata comprou a anglo-holandesa Corus. Numa economia cada vez mais globalizada, empresas de grandes países em desenvolvimento ¿ como Brasil, Índia, China, Rússia e México ¿ competem de igual para igual com rivais de nações ricas. São as transnacionais emergentes, cujo volume de investimentos no exterior quase triplicou desde 1999: de US$51,9 bilhões para US$145,3 bilhões no ano passado, segundo a Economist Intelligence Unit (EIU).

A expansão ocorre em diferentes setores, de alimentos (como as brasileiras Sadia e Perdigão) a fármacos (como a indiana Ranbaxy), passando por cimento (a mexicana Cemex) e computadores (a chinesa Lenovo). Levantamento da consultoria americana Boston Consulting Group constatou que as cem transnacionais emergentes mais promissoras empregam, juntas, 4,6 milhões de pessoas. E faturaram US$715 bilhões em 2004 ¿ quantia superior ao PIB brasileiro.

Drible à ausência da Alca e ao câmbio desfavorável

A lista inclui 12 brasileiras, de gigantes como Petrobras a apostas como a Natura. As empresas menores, aliás, integram uma segunda onda de internacionalização, afirma João Carlos Ferraz, diretor da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da Cepal. São experiências de sucesso nos setores de comércio e serviços, que buscam o exterior porque já chegaram a um limite de crescimento no mercado interno. É o caso da brasileira Azaléia ou da rede chilena de farmácias Ahumada.

Nos demais setores, as empresas são de grande porte. O Brasil, afirma Ferraz, chegou atrasado neste processo:

¿ Dada a complexidade da economia brasileira, as empresas poderiam ter se lançado ao exterior antes. É um fenômeno recente que, se por um lado mostra o dinamismo do setor empresarial, por outro segue uma estratégia defensiva. Muitas empresas estão indo ao exterior para se protegerem do câmbio desfavorável e terem acesso a crédito mais barato.

Para a catarinense WEG, a motivação para instalar fábricas no exterior foi se aproximar dos clientes. A fabricante de motores tem unidades industriais no México, na Argentina e em Portugal. Sua mais recente aquisição foi na China. Mas outros fatores também pesaram na escolha dos países de destino:

¿ Com a fábrica no México, não dependemos mais se a Alca vai ocorrer ou não. Ficamos mais imunes a decisões políticas. E operar no exterior também diminui nossos riscos, pois o câmbio atual prejudica a competitividade ¿ afirma o presidente-executivo do grupo WEG, Décio da Silva.

Ele destaca que o foco da empresa será agora a China e seu entorno, região que mais cresce no mundo. Também a China foi palco da mais recente conquista da Embraer: a venda de cem aviões, num total de US$2,7 bilhões. Segunda maior exportadora do Brasil, a empresa tem consolidado sua posição no exterior com unidades industriais. Além de uma fábrica na China, a Embraer tem um centro de serviços nos EUA, uma base de manutenção em Portugal e vai instalar um novo centro na França e quatro outros no mercado americano.

¿ O negócio aeronáutico é, por natureza, global. Para nós, a internacionalização não era uma questão de opção ¿ afirma o diretor-presidente da Embraer, Maurício Botelho.

Sadia vai inaugurar em 2007 uma fábrica na Rússia

Para a Natura, ir para o exterior foi uma opção. Ou melhor, uma estratégia muito bem definida há cinco anos quando, segundo o vice-presidente da empresa para a América Latina, Maurício Bellora, a Natura decidiu que queria crescer no mercado externo. Hoje tem subsidiárias em Chile, Argentina, Peru e México, além de uma parceria na Bolívia, e está em vias de abrir novas unidades na Venezuela e na Colômbia. A opção pelo mercado externo foi certeira: as vendas no exterior crescem a um ritmo de 50% ao ano.

Para a Sadia, a internacionalização também foi uma estratégia de sucesso. Depois de bater o recorde de um milhão de toneladas vendidas ao mercado externo em 2005, tornando-se a oitava maior exportadora do Brasil, a empresa se prepara para ter sua primeira fábrica no exterior, na Rússia. O projeto, em parceria com uma empresa local, terá um custo de US$70 milhões e será inaugurado no ano que vem.

Segundo José Augusto Lima, diretor-executivo de mercado externo da empresa, a Sadia está preparada para superar obstáculos como barreiras comerciais e crises como a da gripe aviária:

¿ Já passamos pela guerra entre Irã e Iraque, a invasão do Kuwait, a Guerra do Golfo, a invasão americana no Iraque, isso sem contar todo tipo de banimento, imposto e tarifa.