Título: Condenação vira alvo de campanha nos EUA
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Fonte: O Globo, 06/11/2006, O Mundo, p. 22

Democratas dizem temer que pena distraia eleitores americanos nas vésperas das eleições parlamentares

BAGDÁ e WASHINGTON. A maior reclamação dos advogados de defesa sobre o julgamento do o ex-presidente Saddam Hussein é a mesma denunciada por várias ONGs de direitos humanos, entre elas a Human Rights Watch: a de que todo o processo de julgamento foi marcado pela interferência do governo iraquiano e de Washington. A maior prova, segundo eles, é a data escolhida para o anúncio da sentença, dois dias antes das eleições parlamentares americanas, marcadas para amanhã e que pode tirar a maioria no Congresso e no Senado das mãos dos republicanos.

¿ Questionamos a imparcialidade do julgamento em meio aos acontecimentos políticos atuais. Também sabemos que o julgamento fracassou no momento de estabelecer a verdade dos fatos e, conseqüentemente, a oportunidade de se fazer justiça ¿ disse Richard Dicker, um dos diretores da Human Rights Watch.

Presidência da UE reprova a sentença de morte

Em Washington, a notícia, comemorada como ganho político pelos republicanos, foi interpretada com cautela pelos democratas, que fizeram questão de se mostrar favoráveis à condenação do ex-ditador mas também de deixar claro que isso não resolve os erros cometidos pela administração Bush no Iraque.

¿ Espero que esse veredicto não sirva para distrair a atenção dos americanos do que mais precisamos: mudar a estratégia de atuação no Iraque ¿ disse o deputado democrata Tom Lantos, líder do partido na Comissão Parlamentar de Assuntos Internacionais.

A pena de morte também provocou condenações de vários Estados e líderes mundiais. O Vaticano disse que a sentença só ressalta o fato de que o Iraque vive hoje a fase do ¿olho por olho, dente por dente¿, e disse que o ex-presidente deveria ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

¿ Punir um crime com outro crime é o mesmo que matar para se vingar. Se Saddam Hussein estivesse confiado à Corte Penal Internacional não teria sido condenado à pena capital, uma vez que essa condenação não está prevista nesta corte. É isso que deveria acontecer ¿ disse o cardeal Renato Raffaele Martino, presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz.

A presidência da União Européia recordou em comunicado sua posição contra a pena de morte.

¿Fazemos um apelo para que a sentença não seja aplicada. Condenamos qualquer forma de pena de morte¿, diz um trecho do comunicado.

Condenação semelhante fizeram os governos da França e da Espanha. Nem todos dentro da União Européia, no entanto, fizeram coro às declarações da presidência. Itália, Suécia e Reino Unido demonstraram satisfação com a sentença de morte decretada pela Justiça iraquiana.

¿ Crimes hediondos foram praticados durante o regime de Saddam Hussein. É justo que os que foram acusados de ter cometido tais crimes contra o povo iraquiano sejam julgados pela Justiça iraquiana. Estou satisfeita com os resultados ¿ disse a chanceler britânica Margaret Beckett.

Já a ONU pediu moratória para a sentença de morte de Saddam. Em Genebra, Louise Arbour, alta comissária para os direitos humanos nas Nações Unidas, lançou um apelo para que as autoridades iraquianas respeitem ¿plenamente o direito de apelação das pessoas condenadas pelo Alto Tribunal Penal iraquiano¿.

O governo russo advertiu que a execução do ex-presidente pode ter ¿conseqüências catastróficas¿ para o país.

¿ É pouco provável que esta execução seja aplicada. Mas alerto o Iraque para as conseqüências deste ato extremo ¿ disse Konstantin Kossatchev, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Parlamento russo.

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