Título: POPULAÇÃO HISPÂNICA É INVERSA À FORÇA ELEITORAL
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 06/11/2006, O Mundo, p. 23

País tem 41 milhões de imigrantes de origem latino-americana, mas maioria se intimida e não se registra para votar

WASHINGTON. O noticiário político nos EUA, em especial às vésperas de eleições, costuma enfatizar as tentativas tanto do Partido Democrata quanto do Republicano de cortejar e cativar a comunidade hispânica. O seu voto ¿ insistem candidatos de ambos os lados ¿ é essencial para a sua vitória.

Nem tanto. O mais recente estudo sobre esse eleitorado mostra que, por enquanto, o poder eleitoral latino não passa de um mito ¿ à exceção de áreas, ainda restritas, onde há uma grande concentração de pessoas desse grupo.

Um dos dados mais significativos é que, embora os hispânicos tenham sido responsáveis por metade do crescimento da população no país ¿ entre as eleições de 2000 e 2004 ¿ eles significaram apenas um décimo no aumento do total dos votos na última eleição.

¿ O pior é que a brecha entre o substancial aumento da população hispânica e o muito modesto crescimento da força eleitoral dela vem sendo desenvolvida ao longo de uma geração e se ampliou consideravelmente nos últimos anos ¿ disse Roberto Suro, diretor do Pew Hispanic Center (PHC), que realizou o estudo.

Manifestações não significaram registros

A leveza do peso político dos hispânicos se deve tanto ao fato de eles não se preocuparem em obter o título de eleitor, quanto ao de que os que o fazem deixarem de comparecer no dia da votação. Alguns se intimidam por não falarem inglês e ignorarem que podem pedir informação eleitoral em espanhol. Outros não se animam porque pensam que é preciso pagar para votar.

¿ O que precisamos é criar uma cultura de participação política na comunidade hispânica ¿ disse Germonique Jones, do Center for Community Change.

Mais dois fatores contribuem para a limitada influência dessa comunidade. Um é que muitos de seus componentes não estão capacitados a votar por serem menores de 18 anos: cerca de 80% deles ainda serão muito jovens para votar na próxima eleição presidencial (2008). Outro é o fato de que muitos imigrantes não se naturalizaram americanos, porque não se dispuseram a isso ou porque não podem fazê-lo, por serem ilegais.

¿ No ritmo que as coisas vão, os eleitores hispânicos só terão uma força maior nas eleições de 2012 ¿ disse Richard Fry, um dos coordenadores do levantamento feito pelo PHC.

Quando milhões de hispânicos saíram às ruas, meses atrás, para protestar contra um projeto de lei que ameaçava transformar em delito grave o fato de alguém residir ilegalmente nos EUA, vários grupos de ativismo político se apressaram em cativar os manifestantes, buscando registrá-los como eleitores.

A sua expectativa era atrair pelo menos um milhão de pessoas, que já poderiam votar pela primeira vez nas eleições de terça-feira. O resultado foi decepcionante: eles não conseguiram mais do que 150 mil interessados.

¿ As pessoas agitavam cartazes que diziam ¿Hoje marchamos, amanhã votamos¿. Mas será um processo lento ¿ disse Lionel Sosa, estrategista político do Partido Republicano.

As cifras impressionam à primeira vista. Há 41,3 milhões de hispânicos vivendo no país. No entanto, 14 milhões, nascidos nos EUA, são menores de idade, e 11 milhões não têm cidadania americana ¿ e, portanto, estão impossibilitados de votar.

Dessa forma, sobram 16 milhões capacitados a eleger políticos. Desses, no entanto, apenas 9,3 milhões tinham título eleitoral na eleição de 2004 e nada mais do que 7,5 milhões se deram ao trabalho de ir votar.

Desse panorama resta, agora, uma constatação prática. Segundo a Latino Coalition, a reduzida faixa de eleitores hispânicos inclina-se atualmente para a oposição: 56% estão apoiando os candidatos democratas e 19% ficam com os republicanos.

¿ Será um milagre se os republicanos conseguirem obter 25% dos votos hispânicos ¿ disse Robert de Posada, presidente da entidade.