Título: RESULTADO APERTADO PODE GERAR CRISE
Autor: Renato Galhardo
Fonte: O Globo, 06/11/2006, O Mundo, p. 24

Temor é que Conselho Eleitoral, dominado por FSLN e PLC, não seja imparcial

MANÁGUA. As horas de maior tensão nas eleições eleitorais nicaragüenses começaram depois das 18h (22h de Brasília), quando as urnas foram fechadas. Uma atmosfera de ansiedade caiu sobre o país à espera da apuração dos votos, que deve ser divulgada na madrugada de hoje. Um resultado apertado pode desestabilizar a política no dividido país centro-americano.

¿ Este é o cenário de crise: um resultado eleitoral estreito, que não defina sem controvérsia um ganhador no primeiro turno. Os eleitores duvidam que o Conselho Supremo Eleitoral, dominado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e pelo Partido Liberal Constitucionalista (PLC), administre com imparcialidade um resultado estreito ¿ disse o jornalista Carlos Chamorro.

O país é dividido em correntes e cerca de 75% dos eleitores dizem ter um partido político. A própria cúpula do Conselho Supremo Eleitoral (CSE) passou a ser definida por meio de indicações partidárias por decisão da Assembléia Nacional. O presidente do CSE, Roberto Rivas, por exemplo, é um conhecido membro da FSLN, de Daniel Ortega. As próprias seções de recepção e apuração dos votos são compostas por representantes dos dois partidos que tiveram mais votos ali nas eleições anteriores, quando só havia dois partidos fortes: FSLN e PLC.

Isso gera forte desconfiança nas duas novas forças políticas do país, a Aliança Liberal Nicaragüense (ALN), cisão do PLC, e o esquerdista Movimento de Renovação Sandinista (MRS).

Outra regra eleitoral polêmica ¿ acertada pelo pacto FSLN-PLC ¿ é a diminuição do patamar eleitoral necessário para a eleição de um candidato no primeiro turno. Anteriormente, se o primeiro colocado tivesse mais de 45% dos votos, era considerado eleito. Agora, basta 40%, sendo que pode conseguir a vitória até com menos, caso tenha pelo menos 35% e mais de cinco pontos percentuais à frente do segundo colocado.

O maior beneficiado com a mudança foi Ortega, que pode vencer mesmo tendo sua menor votação em todas as eleições das quais participou (esta é sua quinta candidatura), como apontam as pesquisas. Torna-se mais fácil também superar a alta rejeição a seu nome: 47% dos eleitores entrevistados pelo instituto M&R têm opinião desfavorável de Ortega e 42% disseram que jamais o apoiariam.

Mas a regra beneficia também o candidato do PLC, José Rizo. Segundo a mesma pesquisa, 51% dos nicaragüenses rejeitam o político, aliado do ex-presidente Arnoldo Alemán, que foi condenado a 20 anos de prisão por corrupção. (R.G.)