Título: NICARÁGUA REFORÇA DEMOCRACIA NAS URNAS
Autor: Renato Galhardo
Fonte: O Globo, 06/11/2006, O Mundo, p. 24

País vota com tranqüilidade em eleição presidencial que traz como grande novidade a diversidade política

MANÁGUA. O forte sol, interrompido por uma violenta pancada de chuva no início da tarde, e as horas de espera em filas não impediram que centenas de milhares de nicaragüenses votassem ontem em Manágua para escolher o próximo presidente. A presença do eleitorado foi grande em todo o país, sem que fossem registrados casos de violência política. Analistas políticos afirmam que, seja qual for o resultado da eleição, a democracia nicaragüense sairá ganhando, pois o pleito de 2006 trouxe uma grande novidade para o país: a diversidade política.

¿ As perspectivas são que a atual diversidade de correntes saneie o bipartidarismo pactista (a aliança entre Ortega e o ex-presidente Arnoldo Alemán, do PLC) da Assembléia Nacional, que se dedica a fazer leis por conveniência eleitoral. E isso ocorrerá independentemente de quem resulte vencedor ¿ disse o jornalista político nicaragüense Francisco Sancho Más.

Confiante, o candidato Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), disse antes de votar que ganharia as eleições.

¿ Tenho plena confiança em Deus de que vamos ganhar no primeiro turno ¿ disse o ex-guerrilheiro, vestido de branco como durante toda a campanha. ¿ Vou ganhar hoje. Vai ganhar a Nicarágua.

Propaganda de Ortega violou lei eleitoral

O principal adversário do sandinista, Eduardo Montealegre, da Aliança Liberal Nicaragüense, também demonstrou otimismo. Mas preferiu responder indiretamente ao ser perguntado sobre as declarações de vitória de Ortega.

¿ Temos certeza de que o povo nicaragüense fará essa nova opção ¿ disse Montealegre, referindo-se à sua candidatura.

Porém, nem todos os candidatos optaram apenas por declarações otimistas. Ao lado de sua sogra, a ex-presidente Violeta Chamorro, Edmundo Jarquín, do Movimento de Renovação Sandinista (MRS), condenou o que considerou propaganda política ilegal de Ortega.

¿ Algumas rádios e canais de TV fizeram propaganda ilegal danielista ontem e hoje (sábado e ontem). Não sei como o Conselho Supremo Eleitoral (CSE) não tomou providências.

O candidato se referia à Rádio Ya e, principalmente, ao Canal 4 de TV. Este último passou clipes musicais com o tema de campanha de Ortega sábado e mesmo ontem, dia da votação, apesar de a propaganda eleitoral estar proibida por lei desde quinta-feira. O Canal 4 chegou a transmitir ao vivo uma missa assistida por Ortega na noite de sábado.

Cédulas e urnas confusas causaram demora na votação

Um dos motivos para as grandes filas nas seções eleitorais foi uma infeliz escolha do CSE. Ontem foram eleitos presidente, deputados da Assembléia Nacional, dos departamentos e do Parlamento Centro-Americano. Eram quatro cédulas a ser depositadas em urnas diferentes. O problema é que cédulas e urnas eram identificadas por faixas com diferentes tons de marrom, muitas vezes indissociáveis entre si. Ortega e o presidente Enrique Bolaños, por exemplo, ficaram alguns minutos diante das urnas comparando as cores antes de depositar o voto.

O comércio local aproveitou o clima eleitoral. Lojas anunciam descontos para quem mostre o polegar direito pintado, prática usada para que as pessoas não votem mais de uma vez. Os mais de mil observadores internacionais espalhados pelo país consideraram que, apesar de problemas pontuais, a votação transcorreu bem. Entre os monitores estavam os ex-presidentes Jimmy Carter, dos EUA, Alejandro Toledo, do Peru, e Raúl Alfonsín, da Argentina.

¿ Está tudo tranqüilo. Houve só problemas menores ¿ disse Carter, pela quarta vez observador na Nicarágua.