Título: PIORA PERCEPÇÃO DE CORRUPÇÃO NO BRASIL, DIZ ONG
Autor: Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 07/11/2006, O País, p. 9

Escândalos sucessivos deram ao país a menor nota desde que foi criada a aferição sobre o problema, em 1995

SÃO PAULO. Os sucessivos escândalos de corrupção derrubaram em oito posições a colocação do Brasil, que agora ocupa a 70ª posição no Índice Anual de Percepções de Corrupção, divulgado ontem pela ONG Transparência Internacional. A nota brasileira, de 3,3, é a menor desde 1995, quando foi criado o ranking, medido por meio de uma compilação de opiniões de empresas de análise de riscos, que dão notas de 0 a 10. Neste ano, 163 países estão relacionados. Em 2005, o Brasil ficou em 62º lugar, entre 159 países analisados. Segundo Cláudio Weber Abramo, diretor da subsidiária brasileira da organização, analisando apenas os 154 países relacionados em 2005 e 2006, o Brasil caiu cinco posições.

¿ Como houve forte exposição de escândalos como o do mensalão e dos sanguessugas na imprensa internacional, é inadmissível imaginar que não tenha repercutido na opinião dos investidores e, conseqüentemente, no índice deste ano. É também presumível que progressos no combate à corrupção que aconteceram no período, tanto em setores do governo federal quanto em estados e municípios, não tenham sido captados pelas pessoas que responderam ou, se captados, não resultaram suficientes para compensar o efeito dos escândalos.

Segundo Abramo, as opiniões coletadas não correspondem a avaliações sobre governos. Mas a ação dos governantes no combate à corrupção e o grau de descentralização administrativa no país se reflete nas opiniões.

¿ O ambiente de países como os EUA e o Brasil, que são altamente descentralizados, é significativamente diferente de países muito centralizados, como acontece na América hispânica.

Bastos: houve aumento ao combate à corrupção

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao comentar o relatório, disse que a corrupção não aumentou no país:

¿ Não acredito que tenha havido aumento da corrupção. O que houve foi um aumento do combate à corrupção, um aumento da publicidade do combate à corrupção. Ela está sendo tirada de baixo do tapete.

O índice aponta estreita correlação entre corrupção e pobreza. Países que apresentam alta renda per capita e melhor distribuição de recursos, como Finlândia, Islândia e Nova Zelândia, encabeçam a lista como os menos corruptos. Em contraposição, países pobres como Haiti e Iraque são relacionados como os mais corruptos.

¿ Os resultados indicam que ainda há muito por fazer para uma melhora significativa na vida dos cidadãos mais pobres ¿ disse Huguette Labelle, presidente da ONG, no lançamento mundial do estudo, em Berlim.

Segundo o estudo, quanto mais íntegro o país, menor sua mobilidade no ranking. Entre os que mais se movimentaram estão o Paraguai, que subiu 35 posições, e o Brasil que caiu 5.

* Especial para O GLOBO