Título: SANGUESSUGAS: CPI OUVE BARJAS NEGRI
Autor:
Fonte: O Globo, 07/11/2006, O País, p. 8

Líderes divergem sobre depoimentos; Serra viaja e não deve comparecer

BRASÍLIA. Sem conseguir avançar nas investigações sobre a origem do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê contra os tucanos, a CPI dos Sanguessugas marcou para hoje os depoimentos dos ex-ministros da Saúde tucanos José Serra e Barjas Negri. Mas, passada a eleição, a audiência ¿ aprovada no calor da disputa ¿ ontem foi considerada dispensável tanto por líderes do governo quanto da oposição.

Serra está nos Estados Unidos e não deve comparecer. Seu sucessor, Barjas confirmou presença, mas deve negar as acusações feitas por Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, de que o empresário Abel Pereira atuaria como intermediário de supostos negócios ilícitos na sua gestão na Saúde.

Biscaia, no exterior, não participará das audiências

Para quarta-feira, estão marcados os depoimentos dos dois ex-ministros do governo Lula, Humberto Costa e Saraiva Felipe, mas nem o sub-relator responsável pela investigação do Executivo, o tucano Júlio Redecker (RS), espera revelações da reunião:

¿ Esses depoimentos são políticos, porque o que deveria ter sido feito é aprovar os 40 requerimentos de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de pessoas e empresas que têm relações com os negócios investigados. Começar pelo andar de cima é não colaborar com as investigações, e agora todas as atenções da CPI estão voltadas para o dossiê.

Já os líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), consideraram ontem os depoimentos dispensáveis. O presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), também não deve participar das audiências. Ontem, a informação em seu gabinete era de que ele estava em missão oficial no exterior e que só voltaria na quarta-feira.

A reunião de hoje deve ser presidida pelo vice-presidente da comissão, Raul Jungmann (PPS-PE), que, ao lado dos sub-relatores Fernando Gabeira (PV-RJ), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Julio Delgado (PSB-MG), trabalha para garantir que a CPI produza novas descobertas em seu relatório final. Para Delgado, a comissão já cortou na própria carne ao apontar os parlamentares envolvidos com o escândalo das sanguessugas.

Delgado lembrou que a maior parte dos parlamentares citados pela CPI como envolvidos com a máfia das ambulâncias não se elegeu. Criticou, entretanto, a possibilidade de ser feito um acordo entre governo e oposição para que as investigações não avancem sobre irregularidades que eventualmente possam ter sido cometidas no governo passado e no atual:

¿ Espero que isso não ocorra para não inviabilizar a CPI, que tem 45 dias para mostrar a segunda parte do seu trabalho, que é a participação dos integrantes do Executivo, tanto federal quanto nos municípios. Temos de dar uma resposta também sobre o dossiê.

¿Não existem provas contra nenhum dos três¿

Sampaio disse ainda que a ida de Barjas Negri hoje à CPI deve servir para que ele esclareça as acusações feitas por Vedoin:

¿ Acho importante que ele esclareça. Contra ele só existe essa acusação do Vedoin de que o Abel era amigo dele. Os outros ex-ministros terão mais coisas para explicar. Humberto Costa tem de falar sobre as planilhas que citam José Ayrton Cirilo (deputado federal eleito pelo PT do Ceará) encontradas na Planam. No caso do Saraiva Felipe, uma assessora direta dele foi presa, a Maria da Penha. Não existem provas contra nenhum dos três, mas há uma distinção ¿ diz Sampaio.

Mas, se os tucanos ameaçam atacar os ex-ministros de Lula, os petistas não se surpreenderão se os ex-ministros tucanos não forem à CPI.

¿ No momento em que a CPI optou pelo convite, já era um indicativo de que a própria CPI avaliou a possibilidade de não ida deles. Eu acho que os ministros, sem exceção, não atenderão ao convite da CPI ¿ disse Chinaglia.