Título: MEDIDA DA AERONÁUTICA LEVA A DUPLO COMANDO NA OPERAÇÃO DE VÔOS
Autor: Regina Alvarez e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 07/11/2006, Economia, p. 20

Aviões comerciais e da FAB são controlados por equipes sem contato entre si

BRASÍLIA. Para contornar a crise provocada pela operação-padrão dos controladores de vôo, a Aeronáutica adotou uma medida de emergência que acabou ampliando o clima de insegurança e estresse no Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília (Cindacta 1). Desde a última quinta-feira, todos os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), inclusive a frota que atende ao governo, passaram a ser operados pela Defesa Aérea, que até então cuidava apenas das aeronaves envolvidas em missões militares, a maioria de treinamento. A medida resultou, na prática, em um duplo comando operando no mesmo sistema, o que está causando conflitos internos pelos riscos que representa para o tráfego aéreo.

Segundo uma fonte do Cindacta, a medida visou a reduzir o número de vôos controlados pelo Centro ¿ respeitando o limite de 14 para cada operador, reivindicado pela operação-padrão ¿, mas a transferência dos vôos da FAB para a Defesa Aérea, que tem menos recursos de comunicação que o Cindacta 1, tornou-se mais um complicador. Os aviões comerciais e os da FAB voam nas mesmas aerovias mas são controlados por equipes sem contato formal ou subordinação entre si.

O clima de caos e estresse visto nos aeroportos no feriado de Finados se transferiu para as dependências do Cindacta, segundo um controlador.

¿ A probabilidade de panes e acidentes é muito maior com esse modelo ¿ afirma uma fonte da Aeronáutica.

Brigadeiro Bueno vai se reunir hoje com Lula

Segundo essa fonte, os controladores do Cindacta passaram a controlar só 14 vôos, mas têm de se preocupar com os aviões da FAB sob controle da Defesa Aérea. A suspensão das folgas e o enquadramento de todos os controladores em escalas mais rígidas de serviço, decidida pelo Comando da Aeronáutica para resolver a crise nos aeroportos, é outro motivo de descontentamento entre os controladores.

O brigadeiro Luiz Carlos Bueno implantou nos últimos dias uma linha dura de atuação no Cindacta, mas sua situação no governo continua muito delicada pelo embate com o ministro da Defesa, Waldir Pires. Hoje, Bueno tem audiência às 16h com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu ontem um relato detalhado de Pires sobre a situação nos aeroportos. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, o ministro disse a Lula que ¿a situação estava para se normalizar¿.

Apesar do desgaste de Bueno e da cogitação de nomes para substituí-lo no Comando da Aeronáutica, fontes do Planalto disseram ontem que, por enquanto, Lula não pretende fazer mudanças nessa área. O vice-presidente José Alencar, que participou ontem da reunião de Lula com a coordenação de governo, acredita que a situação já está se normalizando:

¿ O comandante Bueno e o ministro da Defesa são pessoas respeitadas e de conceito ilibado. Há pequenas turbulências, não são nuvens pesadas.

COLABOROU Luiza Damé