Título: PARTIDO DEMOCRATA AMPLIA VANTAGEM
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 07/11/2006, O Mundo, p. 26

Republicanos fazem último esforço para reverter previsão de vitória da oposição nas eleições de hoje

O último dia de campanha eleitoral, ontem, começou com festivas celebrações do Partido Republicano, motivadas por pesquisas de opinião realizadas no sábado apontando uma significativa recuperação de vários candidatos ¿ com a vantagem dos democratas, no geral, caindo para apenas dois pontos percentuais. No entanto, dois baldes de água fria frearam o seu entusiasmo, no final da tarde.

O primeiro surgiu na forma de uma nova pesquisa, feita ontem mesmo, encomendada pela rede CNN, mostrando que a vantagem dos democratas se ampliara para 20 pontos. Ou seja: 58% das pessoas que garantiram votar hoje disseram que apóiam o partido da oposição, e 38% ficam com o partido do governo. As médias de outras seis pesquisas nacionais ¿ a chamada ¿pesquisa das pesquisas¿ ¿ apontou também uma vitória democrata por uma margem de 53% a 41%. O dado mais significativo destas foi que 17% dos que disseram apoiar o Partido Republicano admitiram que, em cima da hora, poderiam votar na oposição; enquanto 10% dos democratas disseram que talvez votassem em candidatos republicanos.

Outro choque surgiria menos de meia hora depois. Um outro levantamento, também por conta da CNN, revelou que a popularidade do presidente George W. Bush caíra mais dois pontos, para o índice mais baixo em seus seis anos de governo: 35%. Pior: 41% dos eleitores disseram que a desaprovação de sua gestão afetaria o seu voto, hoje, na eleição que definirá o partido que controlará o Congresso.

¿ Não há sinais de que a onda (democrata) esteja baixando. A realidade é que a lista de assentos republicanos vulneráveis no Congresso continua a crescer ¿ afirmou Amy Walter, editora do ¿Cook Political Report¿, publicação especializada nesse tipo de pesquisa.

Bush capitaliza sentença de Saddam

A dança dos números desatou uma nova batalha. Ken Mehlman, presidente do Comitê Nacional Republicano, emitiu um e-mail ¿ enviado aos eleitores registrados no partido ¿ incentivando-os a voltar à carga no empenho de convencer simpatizantes a não deixarem de votar.

Ele contou que os voluntários conseguiram fazer contato ¿ pessoalmente, por telefone, ou por e-mail ¿ com nada menos do que sete milhões de pessoas, apenas no último fim de semana. E apelou pela sequência do esforço: ¿Se conseguirmos manter esse pique, nós republicanos estaremos fadados a fazer história. Mas isso só acontecerá com a sua ajuda.¿

Bush fez o que pôde em comícios na Flórida, no Arkansas e no Texas ¿ onde, no fim do dia, se instalou em seu rancho em Crawford e ali aguardará o resultado da apuração. Ele tratou de capitalizar a condenação de Saddam Hussein à forca. E depois de afirmar que uma vitória democrata significaria aumento de impostos e mão leve contra o terrorismo internacional, mencionou alguns índices positivos da economia ¿ num tom típico de ¿otimista-em-chefe¿, apelido que lhe deu, dias atrás, o jornal ¿The New York Times¿ ao se referir ao presidente e comandante-em-chefe das tropas americanas.

Bush, porém, viu-se obrigado a engolir um desaforo político, uma deserção de última hora, e justamente na Flórida, cujo governador é seu irmão Jeb: o candidato republicano a governador, Charlie Crist, desistiu de ir a um comício em Pensacola, ontem de manhã, justamente para não aparecer em público ao lado do presidente americano.

¿ Seja como for, creio que as nossas possibilidades de vitória continuarão a melhorar nas próximas horas, à medida que os eleitores digerirem o veredicto contra Saddam Hussein, as estatísticas positivas da economia e o risco dos democratas assumirem o controle do Congresso. No geral os eleitores republicanos chegam tarde de volta à casa, mas chegam ¿ disse Mehlman.

Percalços à parte, o seu partido continuava injetando ontem o que sobrou dos US$30 milhões que reservara para mobilizar eleitores nos últimos quatro dias da campanha. Desta vez, diferentemente do que costuma acontecer, o Partido Democrata tinha mais dinheiro em caixa para isso: além de investir US$25 milhões especificamente na campanha pelo Senado, estava aplicando mais US$10 milhões para garantir a maioria também na Câmara.