Título: UM EXÉRCITO DE ADVOGADOS CONTRA A FRAUDE
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 07/11/2006, O Mundo, p. 27

Partidos se mobilizam para monitorar votação eletrônica que testes preliminares revelaram estar sujeita a falhas

WASHINGTON. Por incrível que pareça, os eleitores no país de tecnologia mais avançada do mundo temem que o seus votos, hoje, não venham a ser computados. Ou, então, que sejam anotados para um candidato no qual eles não votaram. Isso porque o sistema de votação eletrônica dos Estados Unidos não é padronizado. Há equipamentos diferentes, de marcas distintas e, como se isso não bastasse, de estilos de operação também distintos. Em pelo menos dez estados os testes preliminares levaram à conclusão de que poderá haver falhas, incluindo a simples eliminação de votos. E, além disso, até mesmo a possibilidade de fraude.

Resultado pode demorar a sair em algumas áreas

Por isso mesmo, apesar de as autoridades terem anunciado providências para evitar falhas que possam acabar sabotando a eleição, tanto o Partido Democrata quanto o Republicano recrutaram um grande exército de advogados que hoje serão despachados para vários pontos do país. Eles estão prontos a iniciar batalhas legais no momento em que uma falha, ou suspeita de manipulação, seja registrada. O clima de apreensão é tão grande que já se cogita a possibilidade de o resultado das eleições demorar para ser anunciado em algumas áreas:

¿ Já podemos antever que o controle do Congresso será decidido numa recontagem de votos, e isso poderia levar várias semanas ¿ disse Paul S. DeGregorio, presidente da Comissão de Assistência às Eleições, uma agência federal que monitora a votação.

Doug Chapin, diretor do Projeto de Informação sobre a Reforma Eleitoral, grupo privado que monitora o sistema eleitoral, concluiu que os sistemas à disposição dos eleitores não são totalmente confiáveis. E, por isso, tornou-se inevitável para republicanos e democratas reforçar o seu exército de advogados:

¿ Está claro que a noite desta terça-feira pode não ser, necessariamente, o fim da linha da eleição ¿ disse ele.

Por isso mesmo não será surpresa se surgirem polêmicas. E é por isso que ambos os partidos criaram uma força-tarefa tanto para fiscalizar a votação quanto para, se for o caso, solicitar recontagem de votos ou mesmo a sua impugnação.

¿ Não vamos cometer o erro da última vez, que foi o de esperarmos até depois da eleição para entrar em litígio ¿ disse Chris Redfern, presidente do Partido Democrata em Ohio, um dos estados em que se espera um resultado muito apertado, referindo-se à polêmica eleição presidencial de 2000 que acabou sendo decidida na Suprema Corte em favor de George W. Bush.

Arizona, Flórida, Maryland, Missouri, Ohio e Tennessee são os estados onde está havendo uma maior concentração de advogados de ambos os partidos, pois ali a disputa será mais acirrada, com as pesquisas de opinião apontando um resultado apertado ¿ vitória com margem mínima. O próprio Departamento de Justiça está enviando 800 advogados para 65 cidades em 20 estados, para garantir o bom andamento da votação.

Um exemplo do problema foi visto nas primárias estaduais, realizadas em Ohio: o resultado levou uma semana para ser conhecido. Lá foi introduzido um processo de votação por leitura ótica, e muitas cédulas preenchidas por eleitores foram formatadas com defeito. Isso impediu a leitura eletrônica, através de scanners, e os votos tiveram de ser contados à mão. Além disso, embora as máquinas produzissem um comprovante em papel ¿ 27 estados exigem esse recurso ¿ 10% desses ¿recibos¿ para as autoridades eleitorais não foram produzidos pela urna eletrônica.

Máquinas serão usadas por 80% dos eleitores

Amanhã, 80% dos eleitores usarão máquinas eletrônicas de votação. Os demais continuarão utilizando cédulas tradicionais. O problema é que apesar de o país ter levado seis anos para modernizar o seu sistema de votação, até o momento os responsáveis pelo setor não conseguiram resolver problemas técnicos que têm causado falhas nos equipamentos.

¿ O que nos preocupa é se os encarregados da votação saberão como lidar com esquemas de apoio de emergência, caso algo de errado aconteça, particularmente nesta eleição que se realiza sob uma pressão intensa ¿ disse Richard Celeste, ex-governador democrata de Ohio que dirigiu um estudo sobre as novas máquinas com o Richard Thornburgh, ex-governador republicano da Pensilvânia.