Título: BUSH É O ALVO DAS URNAS
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 07/11/2006, O Mundo, p. 28

O presidente Bush não está na cédula de votação hoje. Mas esta eleição é, sem dúvida, sobre ele. A pergunta é se os eleitores vão ou não limitar seu poder e os danos que pode causar nos dois últimos anos de seu governo.

Muitos eleitores que se aproximaram de Bush depois do 11 de Setembro parecem agora ter compreendido os erros cometidos por ele e estão prontos para mudarem. Muitos americanos parecem preparados para punir Bush e seu partido hoje.

No entanto, ainda é possível que os republicanos conquistem ambas as casas do Congresso. E se você pensa que a data escolhida para o anúncio do veredicto sobre Saddam Hussein não tem nada a ver com isso e foi apenas uma coincidência, tenho uma conspiração terrorista contra a ponte do Brooklyn para te vender.

Para tornar a situação dos democratas mais difícil, há ainda os potenciais de abstenção e de fraude eleitoral, considerados substanciais nestas eleições.

Mas e se mesmo assim os democratas ganharem? Isso não garante uma modificação na política. A Constituição diz que o Congresso e a Casa Branca são dois ramos de um mesmo governo, mas Bush e a sua gente não são muito bons na compreensão de temas constitucionais. Mesmo com a dócil maioria republicana no Congresso, ele comete todo tipo de arbitrariedade na tentativa de implantar novas leis. Imagine, então, o que fará se tiver de enfrentar uma maioria democrata, seja na Câmara dos Representantes ou no Senado, especialmente em questões sobre a guerra. Imagine o que fará se tiver de responder a um Congresso cheio de questionamentos.

Na verdade, não precisamos imaginar o que vai acontecer. Bush continuará a tentar ignorar os preceitos constitucionais e a governar da forma que acha que deve, continuando a cometer erros, um atrás do outro. Ele continuará desobedecendo às leis que assina, não modificará a estratégia no Iraque, não vai alterar o curso que fez o país tomar, a menos que o Congresso o force a isso.

É por isso que muitos americanos ¿ eu mesmo incluído entre eles ¿ respirarão muito mais aliviados se o esquema unipartidário, na Casa Branca e no Congresso, terminar hoje.

PAUL KRUGMAN é colunista do New York Times