Título: MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Autor: Isabel Braga, Maria Lima e
Fonte: O Globo, 08/11/2006, O País, p. 3

Lula agora comanda negociações com partidos

BRASÍLIA. Diferentemente de quatro anos atrás, quando montou seu primeiro Ministério participando diretamente de poucas conversas políticas, usando para isso o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora está tocando pessoalmente a negociação para composição do primeiro escalão do novo governo. Lula já começou a chamar líderes e dirigentes de partidos aliados para encontros em seu gabinete e tem prometido contato mais estreito e constante com os representantes do Legislativo.

Lula, que nunca escondeu o fato de não ter muito apreço para longas conversas com parlamentares, está reconhecendo agora que precisa mudar seu estilo. Pelo menos foi o que disse ontem ao líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio (PE). Afirmou que fará reuniões mensais com os líderes partidários na Câmara e no Senado. A disposição foi confirmada pelo porta-voz, André Singer.

Na montagem do primeiro governo, Lula delegou essas funções políticas inicialmente a Dirceu, afastado mais tarde devido às denúncias do mensalão, e depois aos ex-ministros Aldo Rebelo (hoje presidente da Câmara), Jaques Wagner (agora eleito governador da Bahia) e, atualmente, ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

A vantagem mais visível desse novo modelo que Lula adota agora é o controle sobre as negociações e a conquista, em tese, da confiança e da fidelidade dos interlocutores, que passam a se considerar privilegiados na relação com o presidente. Outra vantagem ¿ que depende mais do ponto de vista e do interesse em ter esse exato controle ¿ seria o conhecimento de tudo, ou quase tudo, que se passa nas negociações políticas. No auge da crise do mensalão, Lula ficou ressentido de ter que dar explicações sobre denúncias que dizia não ter conhecimento, como a transferência de recursos do PT para os partidos aliados.

Esse mesmo ponto pode ser considerado uma desvantagem, caso surjam novas denúncias sobre a relação do governo com os partidos aliados, pois o presidente não poderia mais alegar desconhecimento dos fatos. A maior desvantagem, porém, ao assumir diretamente as negociações com os partidos, é a pressão direta dos políticos, ficando exposto ao varejo, ao risco de ser envolvido num jogo toma-lá-dá-cá.