Título: Delfim: BC tem que deixar de acreditar em `mitos¿
Autor: Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 08/11/2006, O País, p. 9

Ministro no regime militar e hoje conselheiro de Lula, deputado também fala, como o governo, em crescimento de 5%

SÃO PAULO. O ex-ministro e deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP) disse ontem que só vai haver investimento público no Brasil quando o Banco Central deixar de acreditar em ¿mitos¿ como a incapacidade do país de crescer mais de 3% ao ano e a volta da inflação. Para Delfim, a redução da taxa de juros é apenas um dos fatores que podem possibilitar o crescimento da economia brasileira:

¿ Desenvolvimento é um estado de espírito. Só vai haver investimento quando o Banco Central deixar de acreditar em alguns mitos. Por exemplo, o de que o Brasil não pode crescer mais do que 3% e a idéia de que cada vez que estamos nos aproximando da capacidade, ficamos sob a ameaça grave da volta da inflação. Este estado de espírito é o que comanda o crescimento.

Um dos responsáveis pelo ¿milagre econômico¿ durante a ditadura militar, quando o Brasil cresceu mais de 10% ao ano, Delfim disse que não há uma receita para o ¿bolo¿ do desenvolvimento. Para ele, o país está estruturado para crescer 5% ao ano em 2007, mas a continuidade deste crescimento depende dos investimentos.

¿Eu adoraria ver o Gerdau ir para o governo¿

Para Delfim, é preciso encontrar um mecanismo para ampliar os investimentos do governo freando os gastos de custeio da máquina pública sem, contudo, afetar as políticas sociais:

¿ A maior deficiência que se tem é o problema do crescimento das despesas de custeio do governo. Tem que se encontrar um limite. Por outro lado, há um reconhecimento claro de que nada pode ser feito cortando direitos ou reduzindo os dispêndios sociais.

Delfim negou que tenha sido convidado para assumir um ministério, mas disse que adoraria ver o empresário Jorge Gerdau Johannpeter no governo:

¿ Eu adoraria ver o Gerdau, que produziu um império, ir para o governo e aumentar a produtividade do governo. Em qualquer lugar, nem que fosse para rezar uma missa na catedral, toda semana, tentando comover o Congresso a cortar despesas.

Delfim elogiou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e disse acreditar que o presidente Lula irá deixar o cargo, em 2010, como um grande estadista:

¿ No segundo mandato, o sujeito tem a opção de sair um grande estadista ou registrar seu nome na História e mais nada. Confio na inteligência do Lula de que ele vai fazer o primeiro.

O deputado disse acreditar que o presidente Lula não terá problemas de governabilidade:

¿ Essa idéia de que não há governabilidade é conversa mole, para boi dormir.

Embora não tenha conseguido a reeleição, o deputado diz confiar que seu partido, o PMDB, deve presidir a Câmara e o Senado em 2007.

¿ Qual é a regra? Quem tem a maioria indica o presidente. No Congresso tem duas coisas: a primeira é que a palavra vale e a segunda é a tradição. Cada vez que se brincou com este negócio terminou muito mal.

* Especial para O GLOBO