Título: Barjas se defende atacando petistas do dossiê
Autor: Bernardo de la peña
Fonte: O Globo, 08/11/2006, O País, p. 12

Ex-ministro da Saúde diz que recebeu doação de empresa de Abel Pereira para campanha a prefeito de Piracicaba

BRASÍLIA. O ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB) negou ontem, na CPI dos Sanguessugas, que tenha ocorrido intermediação de negócios e corrupção durante a sua permanência no comando da pasta, nos dez últimos meses do governo Fernando Henrique. Em sua defesa, Barjas partiu para o ataque contra petistas: disse que os responsáveis pela compra do dossiê por R$1,7 milhão é que teriam de explicar as acusações feitas por Luiz Antônio Vedoin, e que as compras de ambulâncias cresceram no governo Lula.

Segundo Barjas, os gastos com ambulâncias passaram de R$48,9 milhões, durante sua gestão, em 2002, para R$149,9 milhões no ano passado.

Barjas admitiu, entretanto, que recebeu o empresário Abel Pereira no ministério com o prefeito de Jaciara (MT), em meados de 2002, para tratar de um convênio de repasse de R$500 mil para obras num hospital da região, que acabou sendo firmado no fim do ano. Barjas disse ter sabido depois que as obras foram executadas pela construtora de Abel e alegou que, se soubesse na época, não teria assinado o convênio:

¿ Vi pela imprensa que quem fez a reforma foi a empresa do Abel Pereira. O que eu não acho correto.

A denúncia de que Abel funcionou como um intermediário da Planam, empresa de Vedoin, no Ministério da Saúde, é investigada pela Polícia Federal e pela CPI. Pressionado pela deputada Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), que ocupava o lugar do relator da CPI, Amir Lando (PMDB-RO), Barjas disse que uma das empresas de Abel fez doações para sua campanha a prefeito de Piracicaba em 2004 e que o empresário o ajudou na eleição.

¿ Uma empresa do grupo de Abel contribuiu para a minha campanha, mas isso não é pecado. Pecado é receber dinheiro de caixa dois de campanha ¿ respondeu Barjas.

Número de convênios subiu em 2004, diz Barjas

No contra-ataque, Barjas informou à CPI, por exemplo, que em 2002 foram firmados 634 convênios para o repasse de recursos a municípios que comprariam unidades móveis. No ano seguinte, o volume empregado foi parecido, mas em 2004 subiu com 1.307 convênios e investimento de R$106 milhões. O auge dos gastos com a compra de ambulâncias, segundo Barjas, ocorreu em 2005 com a assinatura de 1.477 convênios.

Mas, segundo a Controladoria Geral da União (CGU), dos 3.048 convênios com prefeituras para compra de ambulâncias entre 2000 e 2004 que estão sob investigação, 29,2% (ou 891 processos) beneficiaram a empresa Planam, da família Vedoin. Os dados da CGU indicam que 76% dos negócios com a Planam foram realizados até 2002. O levantamento da CGU não inclui, entretanto, convênios de 2005.

¿ Nunca ouvi falar da Planam, não conhecia os Vedoin e eles não freqüentavam o ministério ¿ disse Barjas. ¿ Não dá para botar nas costas do Ministério da Saúde coisas dessa natureza. Se ele vendeu, entregou e não recebeu é problema dele. Nossa responsabilidade sempre foi com as prefeituras.

O ex-ministro usou até a gestão do petista José Machado, ex-prefeito de Piracicaba, hoje governada por ele, como parâmetro para argumentar que não privilegiou a construtora de Abel. No depoimento, os governistas perguntavam se era verdade que o empresário tinha 40% das obras municipais durante a gestão de Barjas. O ex-ministro, hoje prefeito, explicou que na administração passada a empresa de Abel tinha 34% das obras da prefeitura e que hoje tem 36%. Os petistas insistiram em perguntar sobre as acusações feitas por Vedoin a Abel.

¿ Estamos falando do dossiê que foi comprado pelo PT por R$1,7 milhão? Se o senhor Vedoin vendeu um dossiê, acho que ele está pagando a fatura. Ele recebeu para falar isso ¿ argumentou Barjas.

Vanessa cobrou do ex-ministro provas de que as acusações não são verdadeiras. A cobrança provocou alvoroço nos parlamentares da oposição:

¿ O ônus da prova não pode ficar com o acusado ¿ interrompeu o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Num outro momento do depoimento, Barjas, que se manteve a maior parte do tempo sério, chegou a ser irônico:

¿ Isso que o Vedoin está falando só o Freud explica ¿ disse, em referência a Freud Godoy, também investigado pela PF.