Título: TIGRE COMUNISTA NA OMC
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Fonte: O Globo, 08/11/2006, Economia, p. 21

Organização aprova ingresso do Vietnã, que flexibiliza economia e vira estrela do comércio

Representantes dos países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) aprovaram ontem o pedido de ingresso do Vietnã como sócio da entidade, abrindo caminho para que o país controlado por um governo de orientação comunista se torne o 150º membro. A adesão do Vietnã à OMC ¿ que exigirá a abertura de setores aos investimentos estrangeiros ¿ é considerada a consolidação do processo de flexibilização de sua economia, iniciado há 20 anos pelo governo marxista para fazer o país crescer. A entrada na OMC do Vietnã, que cresce a um ritmo acima de 8% ao ano, também exigirá que o governo reduza os subsídios às empresas estatais e reformule sua legislação.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, e o ministro do Comércio do Vietnã, Truong Dinh Tuyen, assinaram um pacote de compromissos a serem obrigatoriamente cumpridos após os embaixadores dos países na OMC terem aprovado as promessas do Vietnã de oferecer aos bancos e seguradoras estrangeiras mais acesso aos seus mercados e de conceder às varejistas direitos de distribuição e importação.

¿ O Vietnã vai subir vários degraus no cenário internacional (como membro da OMC) ¿ disse Joe Mannix, diretor para o Vietnã da companhia aérea United Airlines, controlada pela UAL Corp., em Ho Chi Min, capital do Vietnã, no último dia 2 de novembro. ¿ Sem dúvida haverá também o impacto direto do aumento do tráfego aéreo.

O Vietnã vai se tornar membro da OMC depois que sua Assembléia Nacional ratificar o acordo de ingresso, o que deverá ocorrer até o próximo dia 5 de dezembro, segundo a OMC. O Vietnã ingressará como membro 30 dias após notificar a organização de que ratificou o acordo, o que significa que sua filiação formal está prevista para o início de janeiro. O Vietnã será o país mais populoso da OMC, na relação entre densidade demográfica e território, perdendo apenas para a China, que aderiu à entidade há cinco anos.

¿ À medida que o ritmo de mudanças em relação às regulações internas continue, vejo o Vietnã como a mais nova estrela do mundo do comércio ¿ disse Lamy em Genebra, numa coletiva de imprensa, após a assinatura do acordo. ¿ A abertura comercial é necessária, mas não suficiente para reduzir a pobreza. São necessários esforços domésticos e reformas, e é isso que está acontecendo no Vietnã.

Durante o processo de negociação, o Vietnã, cuja população soma 84 milhões de pessoas e a sua mão-de-obra é barata, reivindicou tratamento especial, como nação em desenvolvimento. O país argumentou que suas empresas precisam de um prazo para se prepararem para a intensificação da concorrência, com o aumento do acesso de companhias estrangeiras ao mercado vietnamita.

¿ Vamos acelerar as reformas, criar um mecanismo completo de mercado, melhorar a capacidade de gerenciamento administrativo, acelerar a reforma administrativa e erradicar a corrupção ¿ disse o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Gia Khiem, aos embaixadores da OMC, ao defender a adesão do país.

Ao aderir à OMC, o Vietnã ficará livre das cotas impostas pelos Estados Unidos às suas exportações de roupas. As peças de vestuário são o segundo maior produto de exportação do Vietnã, ficando atrás do petróleo.

UE cobra compromisso assumido por China

O Congresso americano ainda precisa aprovar uma legislação concedendo ao Vietnã o status de país com Relações Permanentes de Comércio (PNTR, da sigla em inglês). A formalidade visa a dar às empresas americanas garantias de que serão beneficiadas com a adesão do Vietnã à OMC. O Congresso americano vai realizar uma sessão especial pós-eleições na próxima semana, antes que a nova composição da Casa assuma, em janeiro.

Em dezembro de 2005, Tonga, única monarquia do Pacífico, teve o apoio da OMC para se tornar seu 150º membro. Mas ainda precisa ratificar a proposta de acesso. Duas dúzias de países, inclusive Rússia, Líbano e República Democrática do Laos, estão em processo de negociação para adesão à organização.

A China, que aderiu à OMC há cinco anos, vem enfrentando pressões para adotar reformas internas, sobretudo em sua política monetária e de câmbio. Ontem, o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, cobrou do governo de Pequim que assuma suas responsabilidades junto à UE e aos EUA, respeitando os compromissos assumidos na OMC.

¿ Se analisarmos qualquer um dos problemas mundiais que enfrentamos, veremos que a China possui uma parte da solução ¿ disse ontem Mandelson na Universidade de Qinghua, no primeiro dia de visita a Pequim.

(*) Com agências internacionais