Título: GREVE E CÂMBIO FAZEM INDÚSTRIA ENCOLHER 1,4%
Autor: Bruno Rosa e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 08/11/2006, Economia, p. 23

Com produção abaixo do esperado, Ipea e Fiesp prevêem crescimento menor do país no ano

RIO e SÃO PAULO. A greve nas montadoras e a valorização do real, aliadas à redução do otimismo do empresariado, impactaram a produção industrial do país em setembro. Após dois meses de alta, o indicador (livre de influências sazonais) registrou queda de 1,4% em relação a agosto, informou ontem o IBGE. O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado. Com isso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vão rever para baixo a previsão de crescimento da economia este ano.

No ano, a indústria acumula expansão de 2,7%. Já nos últimos 12 meses, 2,3%. Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, afirma que a produção cresceu 0,4% no terceiro trimestre em comparação com o segundo trimestre e 2,7% sobre o período de julho a setembro do ano passado. Em setembro, a principal pressão veio da greve nas montadoras, que reduziram a produção de veículos em 9,3%.

Meirelles minimiza e afirma que tendência é de expansão

Para Sales, ao comparar a série móvel trimestral, setembro mostra um ¿quadro claro de estabilidade¿:

¿ Além da greve, há fatores como a desvalorização cambial, que aumentou o número de importados em diversos segmentos. A linha de bens duráveis acumula crescimento de 44% nos três últimos anos. Em algum momento, o setor teria ritmo menor de alta ¿ afirma Sales.

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, minimizou a queda da indústria. Para ele, não se deve fazer avaliações apenas com base ¿em dados pontuais¿.

¿ O importante é analisarmos a tendência, e a tendência geral do Brasil é de crescimento ¿ afirmou Meirelles, após participar de evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em relação a 2005, 15 dos 23 setores tiveram queda devido ao efeito calendário (com um dia útil a menos), explica o IBGE. Entre as categorias de uso, a queda foi generalizada. Para Thiago Davino, economista da Global Invest, que projetava queda de 0,7%, a expectativa de crescimento da economia é agora ainda menor.

¿ Menos otimista, o empresário nacional segura os investimentos e produz menos. Ele ainda sofre com os juros e a carga tributária ¿ diz Davino.

Estevão Kopschitz, economista do Ipea, que projetava queda na produção de 0,9%, ressalta que a ¿sinalização da economia é ruim¿. Para ele, o resultado não é acidental, e sim a comprovação de que o crescimento do país está baixo:

¿ Vamos revisar o crescimento de 3,3% da economia.

Para a Fiesp, a projeção passou de 2,8% para 2,6%. Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp, com juro alto e câmbio desfavorável não há milagre para a economia crescer.