Título: O PÃO NOSSO DE CADA DIA A QUILO SAI MAIS CARO
Autor: Luciana Casemiro
Fonte: O Globo, 08/11/2006, Economia, p. 25

Em enquete feita pela Comissão Municipal de Defesa do Consumidor, 87% preferem volta da venda por unidade

Em cinco dias de enquete, 87% das 2.105 pessoas que ligaram para a Comissão Municipal de Defesa do Consumidor declararam preferir o retorno da venda por unidade do pão francês, que desde 20 de outubro é comercializado exclusivamente a peso em todo o território nacional, conforme determina a portaria 146, do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Os consumidores reclamam que o pãozinho ficou mais caro. Já os panificadores argumentam que houve uma coincidência entre o aumento de custos e a troca da forma de venda.

¿ Quem antes pagava R$1 por quatro pãezinhos de 50 gramas agora paga R$1,50. As padarias aumentaram o valor, há locais em que o quilo chega a custar R$9 ¿ relata o vereador Dionísio Lins (PP), presidente da comissão, destacando que a enquete será feita até o fim deste mês, pelo 0800 285-2121.

Para Roberto Guimarães, assessor da presidência do Inmetro, o problema não é a forma de comercialização, e sim a má prática dos panificadores. Para ele, não há dúvida de que o sistema é o mais vantajoso para o consumidor:

¿ O que motivou a edição da medida foi o fato de um dos maiores índices de autuação do Inmetro ser justamente a constatação, na fiscalização, de pães abaixo do peso. Em lugar dos 50g mínimos exigidos, encontrávamos até pão de 35g. Com a venda a quilo, o consumidor paga exatamente pelo que está levando. Porém, alguns comerciantes aproveitaram a mudança para aumentar o preço, e daí começou essa confusão.

Antônio José Borges da Costa, presidente da Associação dos Industriais de Panificação e Confeitaria do Estado do Rio de Janeiro, garante que os comerciantes não aproveitaram para subir preços.

¿ O que houve foi uma infeliz coincidência entre o aumento de custos e a troca de forma de venda. Em um mês o saco de 50kg de farinha de trigo passou de R$43 para R$61, e também tivemos uma forte alta dos gastos com água devido à mudança dos relógios pela Cedae ¿ explica Costa, lembrando que o preço do quilo varia ainda de acordo com a qualidade do produto e de custos como aluguel. ¿ Uma loja no Leblon tem aluguel em torno de R$7 mil. Na Penha, fica em torno de R$2 mil.

Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Panificação e Confeitaria (Abip), Alexandre Pereira da Silva, o peso de cada unidade também influencia a percepção de preço pelo consumidor.

¿ Na média, um pãozinho de 50g custava R$0,30. O peso dele, no entanto, podia ser de 53g, 55g, que não fazia diferença para o consumidor, mas agora faz. Por isso, estamos orientando os nossos associados a fabricar o pão mais próximo possível de 50g, o padrão original ¿ diz Silva, acrescentando que Rio e Goiânia são as cidades que têm apresentado maior número de queixas.

Ainda segundo o presidente da Abip, a média de preço do quilo do pão varia, nacionalmente, entre R$4 e R$7:

¿ O preço médio está em R$5,50. Realmente R$9 é um pouco demais.

É por R$5 que Silvia Bache está comprando o pãozinho da família, em Campo Grande:

¿ A diferença no valor pago por dia têm sido de R$0,10. É insignificante.

Nas fiscalizações feitas pelo Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Rio de Janeiro (Ipem-RJ), o principal problema tem sido o fato de o peso da embalagem não ser descontado na balança.

¿ A embalagem pesa, em média, 14g, e é direito do consumidor que esse peso seja descontado. A padaria que não fizer isso pode ser autuada e multada em até R$60 mil ¿ avisa a presidente do Ipem, Soraya Santos.