Título: REPUBLICANOS VIVEM CRISE DE IDENTIDADE
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 08/11/2006, O Mundo, p. 28

Um veredicto das eleições de 2006 foi óbvio, antes mesmo da contagem do primeiro voto. O Partido Republicano não tem mais uma filosofia de governo coerente. Os republicanos com desejo de que um conjunto consistente de ideais vá para frente já pulam um no pescoço do outro, e devem permanecer nessa situação. É verdade, a maioria dos republicanos ainda se descreve como ¿conservadora¿. Mas não é mais claro o que essa palavra significa.

Quando não tiverem mais nada a dizer, republicanos sempre acusarão democratas de arquitetarem um plano secreto para aumentar os impostos. Mas a questão fica pairando no ar porque destoa de qualquer medida sensata sobre como rendimentos e gastos devem combinar, num Orçamento saudável.

E há o Iraque. Os republicanos realistas, especialmente no âmbito da política externa, viram a guerra como um desastre iminente. Neoconservadores, que apoiaram a invasão, culpam o governo Bush de estragar o trabalho. A estratégia americana no Iraque está órfã ¿ somente o presidente e seus aliados mais próximos se dizem responsáveis por ela.

É por isso que sabemos como republicanos e conservadores passarão os últimos dois anos de Bush na Presidência. Vão culpar adversários filosóficos pelo que deu errado, tentar livrar vários atores e idéias, e insistir em formas contraditórias de pureza ideológica. Meu Deus, eles se parecerão com democratas...

Nas disputas, os republicanos tentaram vencer frisando como seus oponentes democratas eram horríveis ¿ e, em muitos casos, republicanos começaram a perseguir uma independência de Bush. Os republicanos não são coerentes quanto à imigração, não têm um plano plausível de consertar o Iraque, e têm pouco a dizer sobre insegurança econômica, saúde e Orçamento.

A lição tirada das eleições de 2006 é que, nos últimos cinco anos, as contradições da direita só se agravaram: conservadores religiosos contra libertários; neoconservadores contra realistas no ramo da política externa; conservadores pró-imigração contra críticos da imigração; corporações contra conservadores da classe trabalhadora; conservadores misericordiosos contra .... humm, como você descreve o outro lado desse aí?

No Congresso, por exemplo, conservadores que votaram pelo déficit no Orçamento culpam lobistas por terem-nos obrigado a isso. Líderes na Câmara dos Representantes ainda brigam sobre quem deveria ter feito o que (e quando) no escândalo sexual envolvendo o deputado Mark Foley. Pelo que se vê, a solidariedade política não anda em alta na família republicana.

É por isso que as batalhas mais interessantes dos próximos dois anos podem não ocorrer entre os dois partidos, mas sim no interior de cada um deles. Depois de um ano lastimável, os republicanos têm muitas contas a acertar. E os conservadores, muitos dos quais cientes da perda completa de rumo, certamente vão gastar uma energia enorme tentando entender o que eles, na verdade, são.

E.J. DIONNE JR. é colunista do Washington Post