Título: PRESIDENCIÁVEIS JÁ DE OLHO NAS URNAS DE 2008
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 08/11/2006, O Mundo, p. 28

Com o fim das eleições de meio de mandato, McCain, Giulianni, Hillary e Obama articulam para tentar suceder a Bush

enfrentar a experiência do popular senador republicano John McCain (ao lado, falando ao microfone)

NOVA YORK. E agora, começa a verdadeira campanha eleitoral. Eles passaram o mês de outubro ziguezagueando pelos Estados Unidos, usando o status de celebridade política para dar um pouco de brilho aos comícios e arrecadar milhões de dólares para as campanhas dos candidatos a senador e deputado dos seus partidos. Estão ansiosos com os resultados das urnas, claro, mas o objetivo maior deles não era tão imediato. Prováveis candidatos às eleições presidenciais em 2008, os republicanos John McCain e Rudolph Giulianni, assim como os democratas Hillary Clinton e Barack Obama, estavam investindo na conquista da gratidão dos futuros delegados nas convenções de seus partidos e aproveitando a oportunidade para se aproximar de eleitores.

Dos quatro, só Hillary Clinton tinha o nome na cédula da eleição de ontem, mas seu lugar de senadora por Nova York estava assegurado mesmo sem ela sair às ruas. No entanto, sua campanha foi a mais cara entre todos os candidatos: gastou US$29,5 milhões, deixando claro suas intenções de concorrer à Presidência.

¿ Talvez Hillary esteja gastando tanto para conseguir uma votação tão grande quanto a de Bush no Texas em 98, dois anos antes de virar presidente ¿ diz Michael Tonner, chefe da Comissão Federal de Eleição.

As apostas são de que, em janeiro, Hillary anunciará a sua intenção de tentar ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos e talvez enfrente a concorrência do senador Barack Obama, estrela em ascensão no partido. Ele enfrentou muito aeroporto congestionado para ajudar os candidatos democratas. O elegante e jovem senador de Ilinois já disse estar interessado em morar na Casa Branca, fazendo História como o primeiro negro a ocupar o Salão Oval. Mas pode também unir forças com Hillary e sair de vice da ex-primeira-dama, reforçando as chances democratas contra o senador republicano do Arizona, John McCain, favorito de nove entre dez institutos de pesquisa na corrida para substituir Bush em 2008.

¿Se o candidato é McCain, nem Hillary nem Obama tem muitas chances¿, disse ao jornal espanhol ¿El Pais¿ o diretor do Centro de História e Mudança Social da Universidade de Wisconsin, Harvey Key.

John McCain se vende como uma alma independente, republicano nem sempre alinhado com a Casa Branca, o que tornou o seu apoio mais interessante para os candidatos temerosos de serem contaminados pela brutal queda de popularidade do governo Bush.

Segunda-feira, o candidato republicano a governador da Flórida preferiu ser visto ao lado de McCain a acompanhar Bush na sua viagem de campanha pelo Estado. O ainda não-candidato McCain encerrou a campanha tendo participado de 346 eventos e arrecadando US$10,5 milhões para os colegas.

O mais velho dos presidenciáveis, McCain, de 69 anos, estava indo bem na tentativa de sair candidato republicano em 2000 até ser arrasado por Bush ¿ e seu feroz estrategista Karl Rove. Entraram para a história política da capital as baixarias e a violência dos ataques da dupla Bush/ Rove contra o respeitado senador, considerado um herói da Guerra do Vietnã, que agüentou a tortura e cinco anos de prisão, a maior parte do tempo numa solitária.

¿ Meu passado exige que pressione a favor da proibição de tratamentos desumanos dos prisioneiros ¿ disse ele, opondo-se à intenção do governo Bush de negociar mudanças nas Convenções de Genebra em caso de presos acusados de terrorismo.

Num período em que os americanos estão à procura de novos heróis, McCain pode aproveitar o seu passado e atrair os republicanos mais moderados, com suas posições a favor da pesquisa com células-tronco, do Acordo de Kioto e de oposição ao corte de impostos dos mais ricos. Mas cálculos políticos exigem realismo e, depois de anos de rivalidade e oposição a Bush, razões eleitorais fizeram-no aproximar-se do presidente, apoiando sua política contra o terrorismo.

¿ McCain não é um moderado. É muito menos independente do que se pensa. Ele sempre defendeu a derrubada de regimes hostis aos EUA ¿ opina Paul Krugman, colunista do ¿New York Times¿.

Assim como Hillary e McCain, também o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giulliani está retocando a sua biografia, e moderando as posições, com o objetivo de se tornar um candidato com mais chances de agradar aos republicanos para sair candidato à Presidência. O nova-iorquino, divorciado duas vezes, conhecido por suas posições a favor do aborto, dos gays, do controle de armas, da imigração, ganhou a admiração nacional ao liderar a recuperação de Nova York depois dos ataques terroristas. Agora está passando por uma nova transformação: rico com sua empresa de consultoria em administração de crises, ele se tornou um dos mais leais aliados do presidente Bush, repetindo as acusações do presidente aos democratas. Nos últimos dias de campanha eleitoral, o itinerário de Giulliani passava exatamente pelos estados que organizam as primeiras primárias do Partido Republicano, cruciais para quem vai concorrer em 2008.

¿ Para Rudy ser um candidato viável em 2008, terrorismo tem de ser a questão central ¿ opina um aliado.

Favoritos ou zebras, os quatro são presidenciáveis, e hoje foi dada a largada oficial para a corrida eleitoral de 2008.