Título: ACORDÃO NO CONSELHO DE ÉTICA DEVE LIVRAR SUASSUNA
Autor: Bernardo de la Peña e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 09/11/2006, O País, p. 8

Colegas defendem pena leve em vez de cassação por envolvimento na máfia dos sanguessugas

BRASÍLIA. O senador Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de favorecimento no esquema dos sanguessugas, deverá ser beneficiado por um acordão no Conselho de Ética para não ter o mandato cassado. Entre os senadores é dado como certo que o Conselho de Ética não aprovará o relatório do senador Jefferson Peres (PDT-AM), que sugere a cassação do mandato e dos direitos políticos de Suassuna.

Em vez disso, deverá ser aprovado um substitutivo elaborado pelo senador Wellington Salgado (MG), líder em exercício do PMDB e aliado de Suassuna. Salgado propõe apenas uma censura pública ao colega. Os senadores consideram que Suassuna, que ficará sem mandato no ano que vem, porque não foi reeleito, já foi punido pelas urnas. Assim, ele dificilmente terá seus direitos políticos cassados, o que o impediria de se candidatar a cargos públicos por oito anos, a partir de 2008.

Ontem, faltou quórum na reunião do Conselho que apreciaria o relatório de Jefferson Peres. Apenas cinco senadores compareceram. O mínimo para abertura dos trabalhos era de oito parlamentares. O fato deve se repetir nas próximas sessões do Conselho. Certo de que não haveria quórum ontem, o próprio Suassuna não foi à reunião.

¿ O próprio relator afirma que não encontrou prova do envolvimento do Suassuna com o esquema, mas sugere sua cassação porque ele não foi vigilante e sua atitude manchou o Senado. Ora, se não há provas, não há por que cassá-lo ¿ defendeu Salgado: ¿ Suassuna tem de ser chamado à atenção e isso precisa ficar registrado na Casa, por isso sugiro a censura.

Salgado negou que haja uma negociação em andamento para poupar o colega. Porém, ele admitiu que a ausência dos parlamentares no Conselho não se deu por acaso.

¿- Esta é uma Casa política. Jabuti não sobe em árvore. Se ali está é porque alguém o botou -¿ disse.

Jefferson Peres condenou a ausência dos colegas e a possibilidade de acordão.

¿ Espero que não haja uma negociação para evitar a votação do relatório. Seria danoso para a imagem do Senado.

O senador Romeu Tuma (PFL-SP), corregedor do Senado, também avaliou que a instituição terá sua credibilidade abalada caso não vote o processo de Suassuna:

¿ Não podemos procrastinar.

O problema é o tempo. Depois de votado no Conselho de Ética, o relatório é encaminhado ao plenário do Senado. Mas, como falta pouco mais de um mês para acabar a atual legislatura, uma das opções para evitar a punição máxima a Suassuna é ¿empurrar o processo com a barriga¿. Terminado o ano, não haveria por que cassar os direitos políticos de um parlamentar que já estará sem mandato, apostam alguns senadores.