Título: Costa admite à CPI encontro com Vedoin
Autor: Bernardo de la Peña e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 09/11/2006, O País, p. 8

Ex-ministro da Saúde nega envolvimento com máfia e afirma que pagamentos feitos à Planam foram regulares

BRASÍLIA. O ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT) admitiu ontem, em depoimento à CPI dos Sanguessugas, que teve um encontro no ministério com o empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas. Admitiu também que liberou o pagamento atrasado de R$8 milhões para a empresa Planam, de Vedoin, principal beneficiada pela máfia.

Costa sustentou, no entanto, que o pagamento à Planam foi feito regularmente e negou qualquer envolvimento com a empresa comandada por Vedoin. O ex-ministro disse que o empresário foi levado ao ministério pelo deputado Benedito Domingos (PP-DF), numa audiência que tinha sido marcada pelo parlamentar. Costa explicou que não sabia quem era Vedoin. A reunião ocorreu na presença do então assessor parlamentar do ministério, Duncan Semple.

Segundo Humberto Costa, o caso da Planam se enquadrava em todos os pré-requisitos estabelecidos por decreto da Presidência da República que disciplinava, no começo do governo, o pagamento de restos a pagar da gestão anterior.

¿ O caso desta empresa, a Planam, se encontrava nestas três questões. Os convênios tinham sido assinados, a contraprestação havia sido realizada. Ele tinha entregue o bem e as licitações tinham sido feitas ¿ alegou o ex-ministro.

Gabeira lembrou propina a Cirilo

Vedoin já disse à CPI que só conseguiu receber os restos a pagar depois de pagar propina a petistas do Ceará. Costa negou, contudo, alguma irregularidade:

¿ Não houve nenhum tipo de beneficiamento a essa empresa, como se tentou estabelecer. Eu não tinha poder discricionário sobre o pagamento destas empresas. Ao contrário. Tinha obrigação de pagar.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos sub-relatores da CPI, lembrou ao ministro as denúncias de Vedoin de que o petista José Airton Cirilo (deputado federal eleito pelo Ceará) e duas pessoas ligadas a ele ¿ José Cauby Diniz e Raimundo Lacerda ¿ teriam recebido R$800 mil de propina da Planam.

¿ Desconheço essas pessoas (Cauby e Lacerda). Não sei nem se são altas ou baixas. A única vez que recebi o José Airton no ministério ele levou um representante do Rotary (Club). Encontrei com ele outras vezes no Ceará. Cauby só conheço o Peixoto ¿ ironizou Costa.

Pelo relato de Vedoin, segundo Gabeira, Costa teria dito no encontro aos donos da Planam ser difícil fazer o pagamento. Mas, na CPI, o ex-ministro contou uma história diferente. O deputado pediu explicações.

¿ Fiz um trabalho de rememoração a partir da minha agenda. Devo ter dado uma resposta-padrão, que se estivesse dentro dos critérios do decreto seria pago ¿ desconversou Costa.

O ex-ministro admitiu ter tido encontros com Cirilo no Ceará, mas afirmou que nunca tratou de assuntos referentes a venda de ambulâncias.

¿ A prova de que estas pessoas estavam vendendo um prestígio inexistente é que elas venderam uma coisa que seria feita de qualquer jeito. Vedoin, se pagou qualquer propina, foi ludibriado ¿ resumiu.

Costa ainda alfinetou os ex-ministros tucanos:

¿ Não sei se o Barjas falou, ou se o Serra vai falar, mas antes de 2003 o controle era restrito à meta financeira do convênio. A partir de 2004, passamos a ter um acompanhamento físico.