Título: COMEÇA JULGAMENTO DE CORONEL POR TORTURA
Autor: Pl[inio Teodoro
Fonte: O Globo, 09/11/2006, O País, p. 12

Brilhante Ustra, ex-DOI-Codi, é o primeiro militar levado ao banco dos réus na Justiça comum por esse tipo de crime

SÃO PAULO. Dirigente do DOI-Codi em São Paulo entre 1970 e 1974, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra começou a ser julgado ontem por crime de tortura na 23ª Vara Cível de São Paulo. Conhecido como comandante Tibiriçá, Ustra é o primeiro militar a ser levado ao banco de réus pela Justiça comum por esse tipo de crime. A ação está sendo movida pela família de César e Maria Amélia Teles, que afirmam ter sido torturados pelo militar durante a ditadura.

¿ Ele é um monstro. É isso que ele é. Ele torturava, matava, como quem vai a um jogo de futebol ¿ disse César, emocionado, ao chegar ao Fórum João Mendes, no centro da capital paulista, onde aconteceu a primeira audiência de instrução.

Lei da Anistia protege acusado

Não há ainda prazo para o fim do julgamento. Na prática, Ustra poderá ser declarado oficialmente torturador, mas não será preso ou condenado. O coronel se ampara na Lei de Anistia, de agosto de 1979, que vale para militares como para os acusados de envolvimento com movimentos de guerrilha de esquerda. A família diz que o julgamento teria validade simbólica.

César e Maria Amélia foram presos no dia 28 de dezembro de 1972 por agentes do Departamento de Operações Política e Social (Dops). Junto com o casal, foi preso também o dirigente comunista Carlos Nicolau Danielli, morto dias depois na sede do departamento.

¿ Quando eu tentei me dirigir a ele, ele me jogou no chão com um tapa no rosto, que foi um verdadeiro espancamento ¿ relembrou Maria Amélia.

Ela contou que, no dia seguinte à sua prisão, militares também levaram os filhos do casal, Janaina e Edson, então com 5 e 4 anos de idade, e ainda sua irmã, Criméia Almeida, que estava grávida de 8 meses.

¿ Lembro dos corredores escuros, dos gritos, dos meus pais inertes, sem conseguir se mexer porque tinham sido torturados a noite inteira. Fiquei muito marcada por esta história, porque além de ter visto meus pais torturados, fiquei seqüestrada seis meses, sem saber de nada. Isto marca uma vida inteira ¿ disse Janaína, hoje historiadora, especialista no período militar.

* Especial para O GLOBO