Título: Inspiração colombiana
Autor: Dimmi Amora, Fabio Vasconcelos
Fonte: O Globo, 09/11/2006, Rio, p. 16

Cabral diz que adaptará para a segurança idéias aplicadas em Bogotá, que reduziu homicídios

Ogovernador eleito do Rio, Sérgio Cabral, anunciou ontem que idéias bem-sucedidas usadas no plano de segurança das cidades de Bogotá e Medelin, na Colômbia, serão adaptadas para o Estado do Rio. No primeiro dia de trabalho com a equipe de transição, Cabral assistiu, por quase duas horas, na Fundação Getúlio Vargas, a uma palestra do sociólogo Hugo Acero, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que foi por nove anos secretário de Segurança e Convivência de Bogotá. Na capital colombiana, a taxa de homicídios foi reduzida de 80 por cem mil habitantes, em 1993, para 18 por cem mil, no ano passado, uma queda de 77,5%.

Cabral está programando também um encontro com a equipe que formulou o plano de segurança para a cidade de Nova York, durante a gestão do prefeito Rudolph Giuliani, e uma visita à Colômbia. Na mesma linha de adaptar experiências de outros lugares para serem usadas no Rio, Cabral vai hoje a Minas Gerais conhecer detalhes da administração do governador Aécio Neves, que vem conseguindo melhorar a receita e sanear as contas do estado. Na sexta-feira, vai ao Espírito Santo, onde se reunirá com o governador Paulo Hartung:

¿ Gosto de buscar experiências que deram certo e, evidentemente, adaptá-las à nossa realidade. Tanto que não só terei as informações da Colômbia, como receberei na semana que vem o especialista que participou do programa com o prefeito Giuliani, em Nova York.

Cabral quer parceria com a prefeitura

De acordo com o governador eleito, duas idéias do plano de segurança de Bogotá já constam do seu programa de governo e serão prioridade: a melhoria dos acessos às favelas, para que agentes de serviços públicos e policiais militares possam transitar livremente, e a urbanização dessas áreas. A proposta de Cabral é pôr em prática esses duas medidas inicialmente na Favela da Rocinha. O governador eleito voltou a destacar parcerias que pretende fazer com o prefeito Cesar Maia. Um encontro entre os dois ainda não foi marcado, porque Cesar viajou, no dia 30, para participar como observador das eleições gerais da Nicarágua e ainda não voltou.

Segundo Cabral, há medidas, como melhorias na iluminação e urbanização, que podem colaborar para reduzir a criminalidade. Outro ponto destacado é a transferência da fiscalização do trânsito para a prefeitura. Hoje, o trabalho é feito pela Guarda Municipal e pela PM. A proposta é passar tudo para a prefeitura, liberando PMs para outras funções.

O secretário municipal da Qualidade de Vida, Alexandre Cerrutti, disse ontem que as parcerias com o estado seriam bem-vindas. Ele, no entanto, ressaltou que, para algumas medidas da prefeitura terem efeito, será necessária a participação ativa do estado. Segundo Cerrutti, em alguns pontos da cidade, é preciso, na ausência da Guarda Municipal, reforçar o policiamento para coibir o vandalismo e furtos de bens públicos.

¿ Semana passada, tivemos mais um caso de roubo de cabos de energia no Parque do Flamengo. O resultado é que isso anulou o esforço que fizemos para deixar a área mais bem iluminada e segura para os freqüentadores. O parque é patrulhado pela Guarda Municipal durante o dia. Mas depende de um policiamento mais efetivo à noite. Esse é apenas um exemplo de colaboração que poderia ocorrer ¿ disse.

Sobre a lei seca, que limitou o funcionamento dos bares à noite em Bogotá, Sérgio Cabral disse que ainda é uma questão a ser analisada.

¿ Ele (Hugo Acero) acha que Guaiaquil, Medelin e Caracas são cidades onde há muitas características em comum com o Rio, do ponto de vista físico e social. Eu acho que, de Nova York a Medelin, há muito a se apreender e adaptar para o Rio. O Rio não é Nova York, o Rio não é Medelin. O Rio é o Rio, com suas vantagens e desvantagens, de maneira que não podemos importar 100% uma metodologia e uma concepção de política de segurança pública. A questão da urbanização das comunidades, que faz parte da nosso plano de trabalho, é um ponto que em Medelin mereceu destaque. A questão do acesso às favelas também. Isso faz parte da minha proposta e começará pela Rocinha ¿ afirmou Cabral.

À tarde, Cabral recebeu uma comissão de líderes empresariais, tendo à frente o presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Olavo Monteiro de Carvalho, na sede da Fundação Getúlio Vargas, onde está instalada a comissão de transição do governo. Representantes da Firjan, da Fecomércio, da Fetranspor, da Federação de Agricultura do Rio de Janeiro, da Câmara Americana de Comércio e da Federação das Associações Comerciais do Rio estiveram no encontro. Cabral reafirmou compromissos assumidos durante a campanha, como o de não aumentar impostos. Os empresários prometeram passar informações técnicas sobre suas áreas para a equipe de transição.

¿ Foi mais um ato político, para mostrar o apoio, sem precedentes na história do estado, destas entidades de classe ao governador. Manifestamos a satisfação de ver que ele está tomando as primeiras providências de forma correta, como a ida a Brasília para falar como o presidente. Vamos colaborar em todas as áreas. Não trouxemos reivindicações ¿ disse Olavo.

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