Título: SUCESSOR ENVOLVIDO NO CASO IRÃ-CONTRAS
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Fonte: O Globo, 09/11/2006, O Mundo, p. 30

Conselheiro de Reagan e Bush pai, ex-diretor da CIA é nomeado para a Defesa

WASHINGTON. Robert Gates, nomeado para ser o novo secretário de Defesa americano, tem 63 anos. Em seu currículo constam 26 anos de alternância de cargos na CIA (agência de inteligência) e no Conselho de Segurança Nacional dos EUA. Nascido no Kansas e com doutorado em história russa e soviética, Gates foi o chefe da inteligência americana durante os governos de George Bush (1989-1993), pai do atual presidente, e de Ronald Reagan. Ele é mais conhecido por seu envolvimento no escândalo Irã-Contras quando, em 1986, ocupava o alto posto de vice-diretor da CIA.

Era consenso entre os investigadores do caso que Gates havia participado diretamente do esquema americano de vendas de armas superfaturadas para o Irã (então em guerra contra o Iraque) e, com o dinheiro excedente, financiado os Contras, rebeldes que lutavam na Nicarágua contra o governo sandinista de esquerda de Daniel Ortega. Até 1991, Robert Gates depôs sobre o caso Irã-Contras em comissões do Senado americano, mas nunca foi processado.

Com o colapso da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, ele se tornou um importante conselheiro do governo americano sobre como lidar com o fim do comunismo. Ele chegou a ser acusado de preparar relatórios adaptados à postura radical de Reagan, que tratava os países comunistas como parte do ¿Império do Mal¿.

Gates já havia sido procurado por Bush filho

Em 1991, Bush pai o convidou para dirigir a CIA, cargo que Gates ocupou até 1993, quando deixou a agência e, depois, publicou um livro de memórias chamado ¿Das sombras: a história essencial de quem viu de perto cinco presidentes vencerem a Guerra Fria¿ (em tradução livre). Em 2002, Gates foi convidado para dirigir a Universidade Texas A&M, o centro de ensino não-militar que mais fornece profissionais para as Forças Armadas, e que possui um instituto cujo nome foi dado em homenagem a Bush pai.

Desde então, vem sendo procurado para voltar a contribuir diretamente com o governo de Bush filho. Em 2005, foi convidado, mas recusou, para ser diretor de Inteligência Nacional (cargo conhecido como o ¿tzar da Inteligência¿), que acabou sendo ocupado pelo diplomata John Negroponte.

Segundo analistas, assim como outros integrantes da então equipe de segurança de Bush pai, Gates não foi consultado sobre a invasão do Iraque em 2003.