Título: URNAS DEIXAM SABOR AMARGO PARA REPUBLICANOS
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Fonte: O Globo, 09/11/2006, O Mundo, p. 31

Partido de Bush perde maioria na Câmara e nos governos estaduais e corre o risco de virar minoria no Senado

WASHINGTON. As eleições dominadas por guerra, escândalo e questionamentos sobre a liderança do presidente George W. Bush terminaram com um gosto amargo para os republicanos. O partido perdeu a maioria na Câmara dos Representantes (229 deputados democratas foram eleitos, contra 196 republicanos), nos governos estaduais (agora com 28 contra 22 postos ocupados por democratas) e corre o risco de perder a maioria no Senado. Depende da Virgínia ¿ onde pode haver uma recontagem de votos, cujo resultado demoraria semanas para ser divulgado. Ali o virtual vencedor, o democrata James Webb, tinha ontem à noite, com 99% dos votos computados, pouco menos de um por cento (oito mil) a mais do que George Allen. E este já antecipou que, se isso prevalecesse, solicitaria uma recontagem.

Algo parecido pode ocorrer, ainda, em Montana. Ali o candidato democrata John Tester derrotou o republicano Conrad Burns por 2.800 votos, ou seja, um por cento de vantagem. Isso significa, na prática, que uma decisão relativa ao Senado poderia acontecer apenas na primeira semana de dezembro.

No Senado, os democratas ganharam cadeiras nos estados de Missouri, Ohio, Pensilvânia e Rhode Island, sem perder nenhuma que já detinham. Na Câmara, cujas 435 cadeiras estavam sendo disputadas, os democratas conseguiram tirar pelo menos 29 cadeiras dos republicanos, sem perderem uma sequer. Há vários resultados ainda sendo apurados, mas as projeções confirmam que os democratas terão 229 assentos. Pela primeira vez, a Câmara será presidida por uma mulher, a deputada democrata Nancy Pelosi ¿ que se torna a segunda na linha sucessória de Bush, depois do vice Dick Cheney.

¿ A campanha acabou. Nós, democratas, estamos prontos para liderar. Estamos preparados para governar. E faremos isso trabalhando em parceira com o governo e com os republicanos no Congresso, e não de forma partidária ¿ declarou Pelosi.

Presidente Bush felicita nova presidente da Câmara

Os democratas esperam desafiar o governo federal numa série de questões domésticas e na política externa, principalmente em relação ao Iraque. Bush ¿ que recentemente disse que quem votasse em democratas estaria facilitando o terrorismo ¿ telefonou ontem a Pelosi para felicitar o partido, convidá-la para almoçar e, brincando com ela, avisou que lhe mandaria o nome de um decorador republicano para ajudá-la a escolher as cortinas de seu novo gabinete.

Os republicanos perderam sem que ideologias específicas de cada candidato, ou seu apoio a Bush, fossem levados em conta. O senador conservador da Pensilvânia, o republicano Rick Santorum, foi o primeiro a cair. Não muito depois, o senador republicano de Ohio, Mike DeWine, conhecido por sua capacidade de trabalhar juntamente com os democratas. Depois, foi a vez de Rhode Island, onde o senador Lincoln D. Chafee, um dos republicanos mais liberais de Washington, perdeu a reeleição. No Missouri, numa das apurações mais apertadas, a democrata Claire McCaskill também venceu seu oponente republicano. Sem falar nas estrelas Hillary Clinton, reeleita por Nova York, e Ted Kennedy, que conquistou seu oitavo mandato no Senado por Massachussetts. Os republicanos mantiveram postos em Arizona, Indiana, Maine, Mississippi, Texas, Utah e Wyoming.

Na Câmara, a tormenta foi ainda maior. Alguns dos republicanos mais proeminentes estavam entre os perdedores, ontem: Nancy Johnson (Connecticut), Anne M. Northup (Kentucky), Jim Leach (Iowa), Clay Shaw (Flórida), J.D.Hayworth (Arizona), Curt Welson e Don Sherwood (Pensilvânia). E a lista segue.

Os democratas conquistaram 20 vagas de governador contra 16 dos republicanos, e têm, pela primeira vez desde 1994, a maioria nos governos estaduais, com 28 contra 22 postos. Dos 36 cargos de governador disputados, os democratas defenderam os 14 que já detinham, e ganharam mais 6: em Nova York, Ohio, Maryland, Massachusetts, Colorado e Arkansas. Em Massachusetts, o ex-promotor Deval Patrick foi eleito o primeiro negro a governar o estado, e somente o segundo governador negro a ser eleito em todo a história dos EUA. Ao derrotar Kerry Healey, ele também acabou com uma hegemonia republicana de 20 anos no local.

Outra derrota republicana importante foi no governo de Nova York, onde procurador-geral Eliot Spitzer substituirá o republicano George Pataki, que deixa o cargo. É a primeira vez em 10 anos que o estado será liderado por um democrata. Em Ohio, um estado decisivo nas eleições para a Casa Branca em 2004, o deputado Ted Strickland, que também é pastor metodista, tornou-se o primeiro democrata em 16 anos a ser eleito governador.

Os republicanos, no entanto, mantiveram cargos de governador na Califórnia, no Texas e na Flórida ¿ mantendo uma boa base, já que os três estão entre os quatro estados mais populosos do país, sendo, portanto, fundamentais nas próximas eleições presidenciais. Na Califórnia, o ex-astro de Hollywood Arnold Schwarzenegger consagrou-se nas urnas, ao ser reeleito governador pelo partido.

¿ Adoro participar de continuações. E esta, sem dúvida, é a melhor ¿ disse.

¿ Acho que o governo dos estados pode beneficiar mais os democratas do que uma maioria na Câmara ou até no Senado. Em 2008, os novos governadores democratas só terão governado por dois anos, não terão tido tempo para se envolver em muitos problemas, e podem atrair votos para seu candidato a presidente ¿ afirma Stuart Spencer, um estrategista republicano, que trabalhou nas campanhas dos ex-presidentes Gerald Ford e Ronald Reagan.

COLABOROU José Meirelles Passos