Título: Meirelles fica fortalecido
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 10/11/2006, O País, p. 3

Quem disse que eu quero trocar?", diz Lula, referindo-se ao futuro do presidente do BC

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem uma forte indicação de que o presidente do Banco Central, Henrique meirelles, deve continuar no cargo no segundo mandato. Como O GLOBO publicou ontem, já estava claro que permaneceriam nos seus cargos os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento). A incerteza sobre a situação de meirelles decorria de movimentos dos "desenvolvimentistas" do governo e do PT, a favor de sua substituição por um nome comprometido com a queda de juros mais acentuada para acelerar o crescimento.

Em conversa com cinco jornalistas, após almoço oferecido no Itamaraty ao presidente peruano, Alan García, Lula escapava de perguntas sobre a formação do governo, dizendo ter prazo até 31 de dezembro para escolher ministros. Mas, quando perguntado se isso valia também para o presidente do BC, cujo nome precisa ser aprovado previamente pelo Senado, respondeu:

- E quem disse que eu quero trocar?

- Isso é uma confirmação do meirelles? - perguntaram os jornalistas.

- Estou dizendo que até dia 31 todos permanecem e têm a minha confiança. Este é um bom time, ganhei a eleição com ele. Não estou com pressa - desconversou.

Lula afirmou que fica espantando quando lê as notícias que têm saído sobre o Ministério, e disse que sua preocupação imediata é com as medidas fiscais e de desobstrução dos projetos de infra-estrutura.

- É com essas medidas que estou ocupado agora. Para o Ministério, tenho tempo. Tive complicações no primeiro mandato. Agora, tenho governo montado, conheço bem cada pasta. Quero antes explicar às bancadas o tipo de governo que vamos fazer e fechar as alianças. Só depois, farei escolhas.

Presidente nega corte de gastos

As medidas serão de estímulo ao investimento e de remoção de obstáculos, ambientais e jurídicos, às grandes obras. Por exemplo, citou Lula, a decisão de uma juíza que suspendeu as obras do gasoduto Coari-Manaus.

- Temos lá três mil homens trabalhando, um grande investimento e, agora, parou tudo.

Lula voltou a negar que seja preciso cortar gastos para investir:

- Repito que não há o que cortar, na proporção que imaginam. Vocês vão ver que o dinheiro vai aparecer!

Anteontem, Lula deu um sinal de que o ministro da Educação, Fernando Haddad, vai continuar, ao dizer que aquele era seu "dia do fico". Dissimulou depois, mas pegou. Haddad estava muito feliz no almoço de ontem.

Outros dois ministros que ali também circulavam sorridentes, com a autoconfiança de quem ganhou o "fica", eram Walfrido Mares Guia (Turismo) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Mares Guia é sabidamente um dos ministros mais apreciados por Lula e teve papel destacado na campanha ao jogar-se no esforço da "virada" em Minas no segundo turno.

Furlan contava animado ter tido na véspera "conversa excelente" com o presidente. Não repetiu, como de outras vezes, que iria embora por razões pessoais, mas não confirmou a permanência. Encontrando-se com o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, cotado para substituí-lo, cortejou-o: - Temos aqui um grande futuro ministro.

- Não serei, até porque ninguém fará nada melhor do que Furlan está fazendo - respondeu Gerdau, negando as sondagens.

Ele também circulou entre políticos e figuras do governo com desenvoltura, declarando otimismo e reiterando sua identidade com Lula:

- Ambos somos persistentes. E queremos um Brasil socialmente melhor.