Título: PT reage e já briga por vagas na Esplanada
Autor: Isabel Braga, Gerson Camarotti e Cristiane Jungblu
Fonte: O Globo, 10/11/2006, O País, p. 8

Bancada se reúne para demonstrar que partido não quer perder espaço no segundo governo do presidente Lula

BRASÍLIA. Em quase quatro horas de reunião, ontem, a bancada do pt na Câmara deixou claro que não está disposta a perder cargos no Ministério e que irá defender seu espaço no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em diferentes intervenções, os petistas enfatizaram que o partido tem que reafirmar sua força eleitoral e assumir o protagonismo de ser a legenda do presidente da República, em contraposição à postura defensiva provocada pelos escândalos de corrupção. A reunião foi uma reação à decisão de Lula de tirar espaço do pt no segundo governo.

- O pt ganhou a eleição e fez a maior votação para (deputado) federal. O governo é de coalizão, mas o programa eleito para governar é o do pt. Vamos buscar o espaço de quem ganhou a eleição. Tanto na Câmara, no Senado e nos ministérios - afirmou o deputado Tarcísio Zimmermann (RS).

"Ministério não é aula de matemática, é de política"

O líder da bancada, Henrique Fontana (RS), ressaltou:

- O pt deseja ter um protagonismo estratégico, mas vamos deixar o presidente à vontade. Não faremos contas de números; a formação do ministério não é uma aula de matemática, mas de política.

Segundo um dos petistas, a tese que a oposição tenta passar ao país, de que o pt é trapalhão, aparelhou o Estado, é antidemocrático e comete erros, tem que ser combatida. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, disse que o pt não pode vestir a carapuça de que faz mal ao país:

- O pt faz bem para o país e, portanto, para o governo.

Participaram da reunião petistas, reeleitos ou não, envolvidos nos escândalos de corrupção: Ricardo Berzoini (SP), João Paulo Cunha (SP), Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP), que estão entre os 40 denunciados por envolvimento no esquema do mensalão pelo Ministério Público. Duas ausências importantes foram sentidas: o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (SP) e o ex-presidente do pt José Genoino (SP).

Segundo Fontana, a presença de envolvidos em escândalos não constrange:

- Se alguém for condenado por erros, responderá por eles.

O presidente interino do pt, Marco Aurélio Garcia, destoou dos colegas. Ao sair, afirmou que a perda de espaço do pt para o PMDB não preocupa:

- Este é um governo de coalizão, que se dá em torno de programas. O pt terá a participação que merece.

O governador do Acre, Jorge Viana, defendeu que o pt deixe a escolha com Lula:

- O pt tem o melhor espaço que um partido poderia sonhar, o de presidente da República. A crise tem que estar em quem perdeu, nós ganhamos.

Mas Lula estaria decidido a neutralizar o poder do pt:

- Não vejo no presidente intenção de contemplar todas as nuances petistas - avisou a líder do pt no Senado, Ideli Salvatti (SC).

www.oglobo.com.br/pais