Título: Dossiê: mesmo detido na PF, Gedimar ligou para outros petistas envolvidos
Autor: Bernardo de la Peña e Francisco Leali
Fonte: O Globo, 10/11/2006, O País, p. 11

Investigação revela que houve ligações para celular do comitê de Lula

BRASÍLIA. Mesmo de dentro da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, o policial aposentado Gedimar Passos - preso na madrugada do dia 15 de setembro com o empresário Valdebran Padilha e R$1,7 milhão no hotel Ibis Congonhas - manteve contatos por celular com outros três envolvidos na tentativa de compra do dossiê contra os tucanos. Na manhã daquele dia, já sob custódia da PF, Gedimar trocou telefonemas com o ex-chefe do serviço de inteligência do PT Jorge Lorenzetti, com o ex-assessor do senador Aloizio Mercadante Hamilton Lacerda e com um celular registrado em nome do comitê pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As informações foram descobertas por perícia do Instituto Nacional de Criminalística da PF nos telefones celulares de Valdebran e Gedimar. Os documentos fazem parte do inquérito que investiga a origem do dinheiro que seria usado para pagar o empresário Luiz Antônio Vedoin.

Gedimar trocou ligações com celular da campanha

Gedimar ligou às 9h14m da manhã para um dos celulares registrados como sendo da campanha pela reeleição do presidente. Às 12h01m, ele ligou para o celular registrado em nome de Ana Paula Cardoso Vieira, mas que a PF e os integrantes da CPI dos Sanguessugas acreditam que era usado por Hamilton Lacerda. O petista, assessor de Mercadante, é suspeito de ser o responsável por entregar o dinheiro no hotel em São Paulo.

Gedimar recebeu ligações de volta do celular registrado em nome do comitê da campanha pela reeleição (às 9h15m), do celular que seria usado por Hamilton (às 12h12m) e de Lorenzetti (às 11h53m). No momento em que fez as ligações, Gedimar estava à disposição do delegado federal Edmílson Bruno, que o encaminhou às 22h45m do dia 15 para o Núcleo de Custódia da PF em São Paulo.

A assessoria de imprensa da PF, em Brasília, informou ontem que Gedimar e Valdebran Padilha não estavam presos. Apenas detidos e que, portanto, não haveria irregularidade nos telefonemas.

Gedimar e Valdebran, segundo a PF, ficaram sob a custódia do delegado o dia inteiro porque a decisão que determinou a prisão, tomada pela Justiça Federal do Mato Grosso, só foi enviada por fax à PF às 20h30m. Os dois permaneceram presos em São Paulo até segunda-feira, quando foram transferidos para Cuiabá. No dia seguinte, foram soltos.

As quebras de sigilo dos envolvidos com a operação revelam, ainda, que, no mesmo dia, depois de falar com Gedimar, Lorenzetti ligou às 9h45m para o telefone do ex-assessor do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini Osvaldo Bargas, também investigado por ter participado da negociação para compra do dossiê. O telefone que seria usado por Hamilton também tentou fazer quatro ligações para Bargas a partir das 12h55m.

No mesmo dia 15, os telefones celulares usados por Lorenzetti e Bargas receberam chamadas de aparelhos do Palácio do Planalto. O número que aparece na quebra de sigilo é o 9649-0099, que está ligado à central telefônica do Planalto. Lorenzetti recebeu quatro ligações de números da Presidência da República - às 10h13m, às 14h39m, às 14h40m e às 18h42m. Bargas recebeu 14 chamadas duas delas por volta de 12h40m e as outras 12 ao longo da tarde.

O chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, já informou ter conversado por telefone com Lorenzetti duas vezes para saber informações sobre a prisão.