Título: Vôo 1907: inquérito está perto da conclusão
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Fonte: O Globo, 10/11/2006, O País, p. 13

Ministro da Defesa diz que espera informações decisivas para encerrar investigação sobre acidente da Gol

BRASÍLIA e SÃO PAULO. As investigações sobre as causas do acidente com o vôo 1907, da Gol, poderão ser concluídas na próxima semana. O ministro da Defesa, Waldyr Pires, anunciou ontem que até lá espera receber informações conclusivas da Força Aérea Brasileira (FAB), que apura o caso:

- Na semana que vem, eu devo ter informações conclusivas sobre o acidente. Não terei o relatório final, porque não pressionarei a comissão de investigação, mas terei informações que levem a uma conclusão do caso.

O Boeing da Gol, que fazia um vôo entre Manaus e Brasília, colidiu no ar com um jato Legacy da empresa americana Excel Aire, na região da Serra do Cachimbo, divisa entre Pará e Mato Grosso. Os dois aviões voavam em sentindo contrário e na mesma altitude: 37 mil pés. O plano de vôo do Legacy determinava que o avião deveria estar a 38 mil pés no ponto onde se chocou com o Boeing.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu anteontem que as investigações do acidente serão conduzidas pela Justiça Federal em Sinop (MT) e não pela Justiça estadual. A relatora da ação, ministra Maria Thereza de Assis Moura, afirmou que, segundo a Constituição, crimes cometidos em aviões são sempre de responsabilidade federal. A investigação criminal tramita paralelamente à apuração que vem sendo feita pela FAB.

Advogados: pilotos brincaram com a Amazônia

Em São Paulo, os advogados americanos Manuel Von Ribbeck e Mônica Kelly, do escritório americano Ribbeck Law Chartered, que representa 40 famílias de mortos no acidente da Gol, acusaram ontem os pilotos do Legacy de estarem "brincando sobre a Amazônia" durante a colisão. Segundo Von Ribbeck, o alto escalão da FAB teria confirmado as informações de que Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, capitão e primeiro oficial da aeronave Legacy, estariam realizando manobras para testar a aeronave, recém-adquirida pela Excel Aire.

- Aparentemente, os pilotos do Legacy estavam fazendo manobras, brincando sobre a Amazônia de forma negligente e o governo confirmou isto - disse, sem revelar sua fonte na FAB, o advogado Manuel Von Ribbeck, que entrou com ação na Justiça de Nova York contra os pilotos.

Acompanhado do perito canadense Max Vermij, que foi contratado pelos advogados para acompanhar as investigações, Von Ribbeck afirmou que, segundo os estudos realizados por especialistas, as 154 pessoas que estavam na aeronave teriam agonizado por cerca de 2 minutos após o choque do Legacy.

- Após o choque, parte da asa do avião da Gol se solta e atinge o Legacy, que segue rumo à Base Aérea da Serra do Cachimbo. O Boeing começa a rodar e cair em parafuso. Provavelmente, em 1 minuto e 53 segundos as pessoas sabiam que iam morrer. É a pior parte. Imagino as mães caindo sem poder salvar seus filhos- disse o advogado, que apresentou a jornalistas a versão dos peritos contratados pelas famílias das vítimas.

A advogada Monica Kelly disse que a intenção dos pilotos era testar a nova aeronave adquirida pela empresa americana.

- Enquanto voavam, (os pilotos) queriam mostrar aos jornalistas como a aeronave era maravilhosa. Não era um vôo normal , havia manobras, sim, e as autoridades vão divulgar no momento apropriado - disse.