Título: No Brasil, 2 mil pessoas internadas por dia
Autor: Demétrio Weber e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 10/11/2006, Economia, p. 28

Doenças sanitárias atingem a população e levam a 803 mil internações por aNo. Diarréia é crônica No país

BRASÍLIA e RIO. Mais de 2 mil pessoas são internadas por dia No Brasil devido às chamadas doenças sanitárias (diarréia, leptospirose, infecções etc). São mais de 803 mil internações todos os aNos Nos hospitais públicos devido a doenças provocadas pela água suja para consumo próprio, pelo lixo sem coleta e pelos valões onde correm esgoto não tratado. Os números foram levantados pela Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), com base em informações recolhidas No Sistema Único de Saúde (SUS).

Os dados do Ministério da Saúde mostram que a diarréia é a principal das doenças provocadas pela ausência de acesso a água limpa e saneamento adequado. E ela é crônica, ou seja, o país não tem conseguido reduzir o número de mortes a ela associado. Entre 2000 e 2004, 26.168 pessoas - a maioria entre zero e cinco aNos - morreram de diarréia. Desde então, a quantidade de óbitos a cada aNo pouco se alterou, ficando em torNo de cinco mil.

O problema desperta ainda mais preocupação porque a rede coletora de esgoto No Brasil cresceu Nos últimos aNos, mas o tratamento não avançou No mesmo ritmo, lembra o professor Léo Heller, da UFMG. Hoje, segundo ele, apenas 35% do esgoto coletado recebe algum tratamento, na maioria das vezes, precário.

- Em determinadas situações, a rede coletora de esgoto pode agravar os riscos à saúde porque, se não for tratado, o esgoto que antes era lançado em fossas passa a circular Nos cursos d"água - explica.

O 2'>Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), tem 12% da água mundial originada em seu território. Se for considerada a água que está No país, mas vem de fora, essa parcela sobe para 16%.

Pobres pagam mais pela água do que ricos

Mas a situação mundial - e em algumas regiões do Brasil - é de escassez e crise sem precedentes, destaca o relatório do Pnud. Seria preciso investir US$10 bilhões por aNo para alcançar a Meta de Desenvolvimento do milênio de reduzir pela metade o número de pessoas vivendo sem água potável e saneamento adequado.

"A quantia pode parecer eNorme, mas representa meNos de cinco dias das despesas militares globais e meNos da metade do que os países ricos gastam por aNo com água mineral", diz o texto. Segundo o Pnud, com esses investimentos, seria possível salvar a vida de um milhão de crianças na próxima década e gerar benefícios econômicos de US$38 bilhões anuais.

A crise mundial do setor, destaca o Pnud, afeta mais os mais pobres. Um terço das pessoas sem acesso à água é miserável (vive com meNos de US$1 por dia) e outro terço está abaixo da linha da pobreza (meNos de US$2 por dia). Além disso, os pobres pagam mais pela água. Segundo o relatório, o preço para os moradores de favelas urbanas é entre cinco e dez vezes maior do que Nos domicílios de alta renda.

- Não há escassez de água, mas um problema de má distribuição, que surge de relações desiguais de poder - afirma Ricardo Fuentes, do escritório do Pnud em Nova York.

A solução pode ter diferentes abordagens, acrescenta Fuentes, com exemplos de sucesso No setor público e também de empresas privadas. Sem querer entrar No debate sobre privatização, o assessor de Desenvolvimento HumaNo do Pnud No Brasil José Carlos Libânio diz que investimentos públicos são indispensáveis:

- A empresa privada não vai levar água para bairro pobre, porque depois não vai ter como pagar o investimento.